Impacto da inflação

O ano de 2022 foi o ano em que a inflação deixou de ser um conceito teórico e abstrato perdido nos velhos livros de economia para passar a ser uma realidade diária que penaliza diretamente as poupanças e o poder de compra das pessoas e afeta o funcionamento e as margens de lucro das empresas.
O que causou tanta inflação?
Os estímulos monetários sem precedentes implementados pelos bancos centrais dos países desenvolvidos, em reação à pandemia da covid, aumentaram a massa monetária de forma significativa, que acabaria por ser canalizada para o investimento em ativos financeiros, por um lado, e para a compra de bens e serviços numa altura em que a vacinação teve um sucesso inesperado e as cadeias globais de abastecimento se debatiam com interrupções resultantes da longa inatividade durante os confinamentos, por outro.
Estes problemas logísticos viriam a ser agravados com a invasão militar da Rússia à Ucrânia, que causou o fecho de portos e rotas comerciais importantes, a suspensão da atividade económica normal na Ucrânia e graves sanções económicas e financeiras do Ocidente à Rússia. Note-se que a Ucrânia e a Rússia são países importantíssimos na produção e exportação de cereais, minérios, alumínio, petróleo e gás natural.
A inflação era mesmo “transitória”?
Porém, ainda antes do início da guerra, a Reserva Federal, o banco central dos EUA, vinha ignorando os sinais de subida da inflação, afirmando ao longo de 2021 que a inflação era “transitória”, ou seja, motivada por fatores conjunturais da cadeia de abastecimento e de procura associados à pandemia e que não deixaria uma marca permanente.
Só em novembro de 2021 é que Jerome Powell, o presidente da Reserva Federal, afirmou que a palavra “transitória” deveria ser removida, por gerar confusão na opinião pública. Além disso, indicou que seria apropriado ao banco central considerar um fim mais rápido ao programa de compra de obrigações, com base na força da economia e na elevada taxa de inflação.
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Qual é a inflação registada em cada país?
Em maio, a inflação nos EUA atingiu 8,6%, o mais alto desde 1981, devido a elevados custos energéticos e alimentares.
Fonte: Investing
Na Alemanha, a inflação saltou para 7,9% em maio, a mais alta desde a reunificação das Alemanhas.
Fonte: Bloomberg
Em Portugal, a inflação alcançou 8% em maio, a mais alta desde 1993, altura em que o país tinha uma economia pujante em rápido crescimento. No gráfico abaixo, podemos verificar a subida acentuada da inflação nos últimos meses:
Como é que a Reserva Federal está a combater a inflação?
A Reserva Federal está a aumentar as taxas de juro de forma rápida e substancial em cada reunião, por saber que está atrás da curva e com uma credibilidade beliscada perante os mercados financeiros. Este tipo de incerteza e de aumentos bruscos da taxa de juro de referência são mais frequentemente associados a bancos centrais de países emergentes do que aos EUA!
Na reunião de maio, apenas um dos membros votou numa subida de “apenas” 0,50%: Esther George, que irá reformar-se em janeiro de 2023. Os restantes membros votaram a favor de uma subida de 0,75%, a maior desde 1994.
Powell espera uma aterragem suave da economia, porque a despesa e o mercado de trabalho estarão fortes. No entanto, em maio, as vendas a retalho nos EUA contraíram 0,3%, o que não é um sinal muito otimista. Quanto ao mercado laboral, várias grandes empresas têm anunciado cortes no pessoal na ordem dos 10% em antecipação a uma eventual recessão económica: Tesla, Coinbase, Compass, Stitch Fix e Redfin são alguns exemplos mediáticos. Ainda é cedo para retirar conclusões sobre o rumo do mercado laboral norte-americano, mas os sinais de aviso começam a surgir.
Como é que os americanos estão a reagir?
A população americana está seriamente preocupada com o impacto da inflação. No índice mensal de sentimento do consumidor da Universidade do Michigan, uma das perguntas refere-se às expectativas de inflação para os próximos anos. A resposta revela bem as preocupações crescentes, com as expectativas ao nível mais alto desde 2008:
Fonte: Bloomberg
Podemos consultar outros dados de inflação, mas são as expectativas dos consumidores que mais importam, porque influenciam as suas decisões de consumo e investimento e os motivam a pedir aumentos salariais para compensar as pressões inflacionistas e perda do poder de compra.
Por fim, a queda significativa na taxa de poupança pessoal dos americanos mostra o ataque cerrado da inflação ao bolso das pessoas comuns. A taxa de poupança pessoal regressou ao nível de 2008:
Fonte: Federal Reserve Bank of St. Louis
A poupança pessoal é igual ao rendimento menos as despesas e impostos, sendo vista como a parte do rendimento pessoal que poderá ser alocada ao investimento em ativos financeiros (ações, fundos, etc) ou em ativos reais, como a compra de casa.
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