Bolsa de Madrid: história, curiosidades e principais índices
Conhece a história da bolsa de Madrid? Aqui vamos contar a sua origem, as datas-chave e algumas curiosidades interessantes. Também veremos onde se localiza, o seu horário, os principais índices bolsistas e as ações espanholas com maior rentabilidade por dividendo.
O que é a Bolsa de Madrid?
A Bolsa de Madrid é o principal mercado de valores de Espanha, fundada em 1831, e desempenha um papel crucial na economia nacional e internacional ao facilitar a negociação de ações, obrigações e outros instrumentos financeiros.
É parte das Bolsas e Mercados Espanhóis (BME), que também integra as operações das bolsas de Barcelona, Bilbao e Valência.
Desta forma, é emblemática pelo seu edifício neoclássico na Praça da Lealdade, onde investidores e empresas convergem num ambiente regulado para a troca de valores.
Destaca-se pelo seu principal índice, o Ibex 35, composto pelas 35 empresas mais líquidas do mercado espanhol, servindo como termómetro da economia espanhola.
A origem da Bolsa de Madrid
Em Espanha, as lojas foram o precedente das bolsas, mercados de grãos e tecidos para o comércio mediterrâneo criados em tempos de Jaime I, o Conquistador.
Posteriormente, no ano 1809, o rei José I Bonaparte criou a primeira bolsa de Espanha, que se localizaria em Madrid, concretamente no Convento de San Felipe el Real, local de reunião para comerciantes onde se realizavam as operações de contratação de ativos mobiliários.
Assim, a Bolsa de Madrid nasceu ligada à necessidade de dar saída aos títulos de dívida do Estado publicamente com o objetivo de fazer frente às dívidas que geravam as guerras e os gastos militares, pelo que a bolsa nos seus primórdios serviu principalmente para o financiamento do gasto bélico. No entanto, deve-se acrescentar que a Bolsa de Madrid não foi bem recebida por todos, pois uma parte da população considerava-a um jogo de azar, enquanto outros viram nela uma boa oportunidade de investimento e uma maneira de canalizar as suas poupanças.
Mas para que tivesse caráter oficial, tivemos que esperar até 1831 com a promulgação da Lei de criação da Bolsa de Madrid.
A primeira sessão da bolsa foi em outubro de 1831 e já estava estabelecida no Consulado da Plazuela del Ángel. Com o tempo, foi mudando de localização até que, em 1893, se estabeleceu no Palácio da Bolsa, onde ainda se encontra hoje.
A Bolsa de Madrid é uma das instituições mais antigas de Espanha e teve um papel chave na história de Espanha, tendo que enfrentar crises económicas e fortes quedas, atuando sempre como um barómetro da evolução da economia do país.
👉 Para mais informações sobre outras bolsas importantes e históricas, deixamos-lhe o seguinte artigo: As principais bolsas de valores do mundo e seus indicadores
A Bolsa de Madrid em 10 datas chave
Existem 10 datas que são chave na história da bolsa de Madrid. Vamos vê-las:
1809: iniciativa de criação por José I Bonaparte
A ideia de estabelecer a primeira Bolsa em Espanha surgiu sob o mandato de José I Bonaparte, irmão de Napoleão Bonaparte, mostrando os primeiros esforços para organizar e modernizar o mercado financeiro espanhol no contexto das reformas napoleónicas.
De facto, ficou bastante surpreendido ao ver que em Espanha, ainda não existia um mercado organizado, quando em França já existia há mais de um século, tendo até tido tempo para experimentar uma bolha financeira.
1831: criação oficial e primeira sessão da Bolsa de Madrid
A Bolsa de Madrid foi oficialmente criada a 20 de outubro de 1831, e a primeira sessão ocorreu no consulado da Plazuela del Ángel. O horário era das 12h ao meio-dia às 3h da tarde e era composta por 5 agentes de câmbio e sessões que duravam 3 horas, marcando o início das operações bolsistas em Espanha.
As primeiras empresas a cotar eram principalmente bancos, siderúrgicas e companhias de caminhos-de-ferro, refletindo os setores económicos dominantes da época.
1834: primeira crise bolsista espanhola e primeiro boom posterior
A Guerra Carlista (1834) deu origem à primeira crise da bolsa espanhola, e teriam que passar 10 anos até 1844-1846 para que ocorresse o primeiro boom bolsista. Nesses anos chegaram a ser negociados 15.000 milhões de reais, o que era uma fortuna para a época. As notícias sobre temas relacionados com a bolsa começam a ganhar força, vêem-se títulos como «todo o mundo joga na bolsa» e começam a surgir os primeiros magnatas da bolsa como: Sartorius, Salamanca, Carriquiri, etc… que são a viva imagem de empreendedores enriquecidos pela especulação.
Entre eles temos que destacar o marquês de Salamanca, construtor de caminhos-de-ferro e construtor imobiliário que levou a Bolsa às massas e com a introdução das operações a prazo disparou a especulação. À medida que o tempo passava, o negócio das ações foi-se expandindo pouco a pouco dentro da sua estrutura. A estas alturas (1855) já se negociavam quantidades relativamente importantes para a época, alcançando quase meio milhão de pesetas.
1890: expansão para outras cidades
No final do século XIX e início do XX, foram criadas outras bolsas de valores em Espanha: Bilbao (1890), Barcelona (1915), e quase 100 anos depois Valência (1980), o que demonstra a expansão e regionalização do mercado bolsista espanhol.
1893 – mudança de sede para o Palácio da Bolsa
Construído por imperativo de Fernando VII. Desta forma, a primeira sessão da história da Bolsa de Madrid no Palácio da Bolsa, teve lugar na sua atual sede localizada na Plaza de la Lealtad, a 7 de maio de 1893, já sob o mandato da Rainha Regente Maria Cristina
Este edifício, construído especificamente para albergar a Bolsa de Madrid, é um exemplo de arquitetura neoclássica. E a sua inauguração representou um momento significativo na história financeira de Espanha, marcando o crescimento e a modernização do mercado de valores espanhol.
1988: criação da CNMV
A Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV) foi estabelecida em 1988 como o organismo regulador encarregado de supervisionar e inspecionar os mercados de valores espanhóis, assegurando a sua transparência e correto funcionamento.
E verdade seja dita, é considerado um dos melhores supervisores financeiros do mundo, juntamente com a BaFin (Alemanha), a SEC (EUA) ou a FCA (Inglaterra)
1992: lançamento do IBEX 35
Em 1992, foi criado o IBEX 35 como o principal índice bolsista de referência para o mercado espanhol, composto pelas 35 empresas mais líquidas cotadas na Bolsa de Madrid.
1995: Sistema de Interconexão Bolsista Espanhol (SIBE)
Para substituir o CATS, o SIBE foi introduzido em 1995, modernizando a infraestrutura tecnológica para a negociação de valores nas quatro bolsas espanholas e aumentando significativamente a eficiência e velocidade das transações.
2002: fim do mercado de corros
O mercado de corros, uma antiga forma de negociação bolsista baseada no sistema de viva voz, chegou ao fim em 2002, marcando a completa transição para a digitalização e a negociação eletrónica de valores.
No entanto, a última sessão do mercado de corros ocorreu a 09 de julho de 2009, quando ainda se negociavam a viva voz cerca de 40 valores de menor capitalização.
2006: fusão com Bolsas y Mercados Españoles (BME)
A Bolsa de Madrid integrou-se nas Bolsas e Mercados Espanhóis (BME), consolidando assim as operações das bolsas espanholas sob uma única entidade, o que melhorou a competitividade e visibilidade internacional do mercado financeiro espanhol.
2020: aquisição pelo Six Group
Em 2020, a BME foi adquirida pelo Six Group, operador da bolsa suíça, num movimento estratégico que sublinha a crescente integração e globalização dos mercados financeiros, oferecendo novas oportunidades e desafios para a Bolsa de Madrid no cenário mundial.
Outras curiosidades de interesse
- Fumadores na bolsa: os corretores de bolsa viviam constantemente com stress e nervosismo, é por isso que quando já não lhes restavam razões para negociar, iam para a sala de reuniões informais que era conhecida como o “Salão de Fumadores” e lá, entre cigarros, descontraíam um pouco.
- O caduceu: um elemento decorativo que se destaca acima do resto é o caduceu, um símbolo da mitologia greco-latina que representa o cetro de Mercúrio, o deus do comércio. A vara que ele carrega está rodeada por duas serpentes e na sua parte superior tem duas asas. Tudo isso representa o que é a bolsa: o bastão é o árbitro, as serpentes a prudência e as asas a velocidade.
- Os bisbilhoteiros: na parte superior do edifício da bolsa de Madrid encontrava-se a “galeria dos bisbilhoteiros“. Os cidadãos podiam ir ao edifício e localizavam-se nessa zona de onde viam em direto o decorrer de cada jornada bolsista. Contudo, era habitual que atirassem beatas e até sapatos para o parquet.
- Momentos convulsos: no início do século XX, a bolsa de Madrid já tinha 60 empresas, mesmo que o desastre de Cuba tivesse reduzido o número em 20%. Curiosamente, lidou melhor com a Primeira Guerra Mundial e o crash de 29, embora não tenha conseguido evitar fechar as suas portas em 1936 com o início da Guerra Civil.
Onde está a bolsa de Madrid?
A bolsa de Madrid está localizada, desde 1893, no Palácio da Bolsa na Praça da Lealdade, um edifício que também é um dos monumentos arquitetónicos mais importantes do país.
Assim, e para sermos mais precisos, o Palácio da Bolsa está localizado na Pl. de la Lealtad, 1, Retiro, 28014 Madrid
Quando abre e encerra a bolsa de Madrid?
A bolsa de Madrid abre de segunda a sexta-feira, das 9 da manhã às 17:30 da tarde. Antes tem um leilão de abertura das 8:30 às 9:00 e, após a sessão, um leilão de fecho das 17:30 às 17:35.
Em qualquer caso, e para mais informações sobre os seus horários, e dias de fecho, bem como o motivo pelo qual o faz, deixo-te com o nosso próximo artigo: Calendário bolsista
Como se chama o principal índice da Bolsa de Madrid?
Vamos ver quais são os principais índices de Espanha:
Ibex 35
O Ibex35, como vimos, é o índice de referência do mercado espanhol, e foi criado em 14 de janeiro de 1992.
Cada empresa tem um peso diferente no índice. Como tal, se uma empresa tem uma capitalização bolsista de 300 milhões de euros, o movimento das suas ações terá muito mais impacto na cotação do Ibex 35 do que outra empresa do índice cuja capitalização bolsista seja de 100 milhões de euros.
O comité consultivo técnico é quem decide que empresas entram ou saem do Ibex 35. Realiza pelo menos 4 reuniões por ano.
Outros índices
- Ibex Medium Cap: o Ibex Medium Cap é composto por empresas de média capitalização. Concretamente, as 20 empresas mais importantes após o Ibex 35.
- Ibex Small Caps: o Ibex Small Cap é composto por empresas de pequena capitalização, especificamente, as 30 empresas mais importantes após o Ibex Medium Cap.
- Ibex Top Dividendos: este índice destina-se a refletir o comportamento das empresas que oferecem um maior retorno por dividendo no mercado de ações espanhol. O objetivo deste índice é medir o comportamento das empresas que, sendo integrantes dos índices Ibex 35, Ibex medium cap e Ibex small cap, apresentam os melhores retornos por dividendo.
- Ibex 35 Total Return: É um índice que inclui os mesmos valores que o Ibex 35, mas também leva em conta os dividendos que as empresas pagam aos seus acionistas. Desta forma, o índice reflete o rendimento total das empresas, incluindo os dividendos que pagam aos seus acionistas.
- Mercado Alternativo de Ações (MAB): O MAB foi criado em 2006 e é destinado a empresas de pequena e média capitalização ou que estejam em desenvolvimento. Portanto, é um mercado onde pequenas empresas (PMEs) são cotadas, para as quais antes da criação do MAB era impossível serem cotadas na Bolsa.
👉 Deixamos-lhe aqui um artigo sobre os principais índices de ações do mundo
Melhores dividendos de empresas espanholas
Entre as ações espanholas que apresentam uma melhor estimativa em termos de rentabilidade por dividendo a 12 meses temos as seguintes:
- Aedas Home 10,18%
- Atresmedia 10,14%
- Enagás 9,79%
- Caixabank 9,61%
- Unicaja 9,09%
- Telefónica 7,89%
- Bankinter 7,75%
- Mapfre 7,61%
- Sabadell 6,91%
- Endesa 6,61%
- Naturgy 6,55%
- BBVA 6,45%
- Santander 5,42%
- Colonial 5,40%
- ACS 5,30%
- Merlin Properties 5,04%
- Aena 5,02%
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Outras bolsas de interesse europeias
E por último, deixamos-lhe o link para algumas das bolsas e mercados mais importantes da Europa.
- A Bolsa de Frankfurt, conhecida por albergar a Deutsche Börse, é uma das maiores bolsas do mundo em volume de mercado e é crucial para a economia alemã, sendo a casa do índice DAX, que inclui as 30 principais empresas alemãs.
- Por outro lado, a Bolsa de Paris (Euronext Paris) faz parte da Euronext, o maior grupo bolsista da Europa, e é vital para o mercado francês e europeu, destacando-se pelo seu índice CAC 40, que representa as 40 empresas mais significativas de França.
- Finalmente, a Bolsa de Londres é uma das mais antigas e prestigiosas do mundo, fundada em 1801, e desempenha um papel crucial nos mercados globais, não apenas europeus, através do seu índice FTSE 100, que reflete o desempenho das 100 maiores empresas cotadas na bolsa de Londres.
Em suma, a Bolsa de Madrid, embora tenha sido uma das últimas a chegar entre os países ocidentais do velho continente, é considerada o principal mercado de valores de Espanha em termos de volume negociado.