Short Squeeze: O que é, como funciona e exemplos práticos

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O “Short Squeeze” é um fenómeno que ocorre nos mercados financeiros, que é capaz de gerar movimentos rápidos e com um grande grau de intensidade nos preços dos ativos/instrumentos financeiros.

Neste artigo é explicado como ocorre este fenómeno, os principais fatores que o desencadeiam e os riscos inerentes, destacando ainda o famoso caso da empresa “GameStop” como exemplo prático.

O que é um “Short Squeeze”?

Um “Short Squeeze” é um fenómeno que acontece no mercado financeiro que tende a ocorrer quando o preço de um determinado ativo sobre de forma abrupta/rápida, fazendo com que os investidores que tinham aberto posições curtas (isto é, “Short Selling” ou Venda a Descoberto) fechem as suas posições com prejuízo. Isso acontece porque os investidores que estão “Curtos” num determinado ativo, precisem de recomprar o ativo em si que tinham pedido “emprestado” para assim cobrir/fechar as suas posições, o que pode aumentar ainda mais o preço, fazendo com que assim se gere, o que se denomina no mercado de “Efeito Dominó”.

Como funciona um “Short Squeeze”?

  1. Investidores realizam vendas a descoberto de um determinado ativo no mercado, ou seja, os investidores pedem emprestado o ativo para vender o mesmo no mercado, esperando que o preço caía. O fundamento por trás é simples, é recomprar o ativo mais barato num futuro próximo, devolvendo-o assim ao credor, e lucrar com a diferença.
  2. Se o preço do ativo em vez de cair, começar a subir de forma abrupta/rápida, por “n” motivos, tais como, notícias positivas sobre a empresa, grandes compras por parte de investidores como aconteceu com a “Game Stop” (exemplo que veremos mais a frente em detalhe), ou outros eventos inesperados que possam ocorrer no mercado que impactem a empresa em si, irá existir uma pressão adicional sobre quem está vendido, o que nos leva ao próximo ponto.
  3. A pressão sobre quem está vendido reflete-se à medida que o preço vai subindo, isto é, os investidores que estão com posições curtas nu determinado ativo começam a acumular prejuízos não realizados (se mantiverem a posição aberta). O intermediário de crédito (Broker) com que o investidor trabalha pode e deverá exigir mais margem ao investidor (garantia) ou se o investidor não depositar lá a margem adicional, o Broker poderá encerrar a sua posição por si, para assim evitar perdas maiores.
  4. Ora, para o investidor encerrar a posição curta terá de comprar o ativo/instrumento financeiro no mercado, aumentando assim a procura pelo mesmo, e consequentemente o preço. O que isso irá fazer? Irá criar um ciclo em que mais vendedores a descoberto são “forçados” a comprar, levando assim o preço a subir mais.

Fatores que causam um Short Squeeze

Um “Short Squeeze” é causado por uma combinação de fatores que aumentam a pressão sobre os investidores que estão “vendidos” num determinado ativo/instrumento financeiro, os denominados “Short Sellers”, e estes mesmos investidores são “forçados” aa recomprar o ativo/instrumento financeiro, fazendo assim acelerar um aumento no preço. De seguida deixo alguns dos principais catalisadores:

  1. Short-Interest elevado: se um grande número de investidores está vendido a descoberto num determinado ativo/instrumento financeiro (utilizando como medida o “Short Interest”), pode criar as condições ideias para haver a proliferação de um “Short Squeeze”, isto é, se houver um elevado nível de “Short Interest” muitos investidores precisaram recomprar o ativo/instrumento financeiro se forem em algum momento forçados a cobrir as suas posições;
  2. Baixa liquidez do ativo/instrumento financeiro: ativos/instrumentos financeiros com baixo volume de negociação são mais suscetíveis a movimentos de “Short Squeeze”, pois, uma pequena quantidade de compras pode provocar grandes oscilações nos preços;
  3. Grande interesse comprador: o aumento da procura por parte dos investidores que estão comprando o ativo/instrumento financeiro, seja por razões fundamentais ou especulativas, podem levar os preços a subir rapidamente; Nota: falaremos mais a frente no caso da GameStop
  4. “Ordens de Stop Loss” dos Short Sellers: muitos “Short Sellers” usam ordens automatizadas de “Stop Loss” para limitar prejuízos. Quando o preço do ativo/instrumento financeiro atinge o nível de “Stop”, essas ordens (automatizadas) “disparam” e “forçam” a recompra (automática) do ativo/instrumento financeiro, o que irá levar consequentemente a um aumento do preço;
  5. Exigência de “Margin Call”: investidores que vendem a descoberto são utilizadores de alavancagem (modo geral), isto é, utilizam capital alheio. Quando o preço do ativo sobe, os Brokers (corretoras) podem exigir um aumento da margem de garantia. Se os investidores não conseguirem cobrir essa exigência, as suas posições poderão ser liquidadas de forma automática, forçando assim a compra do ativo;
  6. Hype: o último dos principais que falarei aqui é o “Hype”, e o que é isto, o “Hype” ou Especulação em redor de um ativo/instrumento financeiro por norma desencadeia compras em “massa”. O famoso “Fear Of Missing Out” (FOMO), que é o medo de perder a oportunidade, pode atrair assim mais compradores, fazendo com que os preços subam.

Riscos para os investidores (que estão vendidos e que tentam lucrar com o movimento) 

“Short Sellers” (Para quem está vendido) – Perdas ilimitadas, “Margin Call”, Liquidez

  1. Perdas ilimitadas: quando o investidor vende a descoberto, o potencial de perda é “na teoria” ilimitado, pois o preço pode subir indefinidamente. Diferente é o investidor que compra o ativo, cuja perda máxima que pode ter é o valor investidor, os “Short Sellers” podem ter perdas muitas maiores do que o capital alocado (na teoria, na prática não é bem assim, e depende sempre da zona do mundo onde estamos a investir e claro da respetiva regulação daquele país)
  2. Exigência de margem (Margin Call): as vendas a descoberto têm por detrás (maioritariamente) alavancagem, e como já disse anteriormente um aumento no preço do ativo/instrumento financeiro, poderá ou não levar a exigências de margem por parte da corretora. Se o investidor não conseguir “cobrir” essas exigências, as suas posições podem ser liquidadas de forma automática, muitas das vezes com um prejuízo significativo.
  3. Liquidez: este é um risco muitas das vezes esquecido por parte de quem investe, mas muito importante, pois, caso ocorra um “Short Squeeze” num ativo/instrumento financeiro com baixa liquidez, poderá tornar-se mais complicado recomprar as ações necessárias para fechar a posição, agravando assim as perdas.

E para quem procura lucrar com este tipo de movimentos?

  1. Efeito “FOMO” ou em bom português “Efeito manada”: muitos investidores compram durante um “Short Squeeze” motivados pelo “Hype” ou pelo medo de “perder o comboio” (FOMO). Isso pode consequentemente levar a decisões emocionais e irracionais, podendo levar a prejuízos elevados.
  2. Volatilidade: durante este tipo de movimentos os preços tendem a mover-se de forma muito rápida e de maneira imprevisível, muitas das vezes, assemelhando o mercado financeiro a casino (50/50). Claro que quem entra tarde no movimento pode acabar a comprar no pico e sofrer perdas significativas quando o preço voltar a níveis mais baixos.
  3. Fundamentais: o preço durante um “Short Squeeze” tende a dissociar-se dos fundamentos daquele ativo/instrumento financeiro, isto poderá significar que o preço pode cair de forma drástica, prejudicando os investidores que não saíram a tempo!

Como identificar um “Short Sellers”?

  1. Análise do “Short Interest”: o “Short Interest” é a proporção de ações em circulação que estão vendidas a descoberto. Um nível elevado de “Short Interest” é um dos sinais mais claros de que um “Short Squeeze” poderá ocorrer; Por norma já se considera um “Short Interest” elevado, >15%; Geralmente quanto maior o “Short Interest”, maior pressão haverá sobre os vendedores caso o preço do ativo/instrumento financeiro suba, criando as condições ideias para um “Short Squeeze”;
  2. Movimentos repentinos no preço: se o preço de um determinado ativo/instrumento financeiro subir sem uma razão aparente/óbvia (como por exemplo notícias ou resultados financeiros da entidade), isso poderá ou não ser um indicativo de que os “Short Sellers” estão a ser “forçados” a cobrir as suas posições. Movimentos de alta acima da média histórica ou gaps de abertura significativos podem ser sinais de um possível início de um movimento deste género;
  3. Liquidez: ativos/instrumentos financeiros com baixo volume de negociação ou menor disponibilidade de ações para empréstimo são mais suscetíveis a um movimento deste tipo. Para ajudar neste tema da liquidez, podemos estar atentos a “Taxa de Empréstimo (Cost to Borrow), que pode aumentar quando existe uma procura muito elevada por empréstimos de ações.

Exemplos de “Short Sellers”

Caso Famoso (GameStop):

A GameStop é uma empresa que através da sua rede de lojas, vende/troca consolas e videojogos. Antes de 2021 enfrentava grandes desafios financeiros devido aos consumidores com a questão da pandemia e não só migrarem a 100% para o digital. Daí que, muitos investidores institucionais abriram posições vendidas nesta cotada numa enorme escala, a espera de lucrar com a queda do seu preço, visto que viam esta empresa com um destino sombrio pela frente.

Nota: o “Short Interest” desta empresa ultrapassava os 100% das ações disponíveis para negociação (Free Float), coisa que não é muito normal, isso ocorreu porque muitas ações tinham sido “emprestadas” diversas vezes, “cozinhando” assim uma situação extremamente vulnerável a um movimento de “Short Squeeze” que depois posteriormente se verificou.

O Gatilho: WallStreetBets (Reddit)

Podemos dizer que aqui foi o pontapé de saída, do que se viria a verificar. Diversos grupos de investidores de retalho, particularmente neste fórum “WallStreetBets”, começaram a notar o elevado “Short Interest” da GameStop e viram uma oportunidade. Foi um movimento coordenado de muitos pequenos investidores que começaram a comprar ações e contratos de opções (CALL) da GameStop numa enorme quantidade, aumentando assim o preço das ações.

Como se processou o “Short Squeeze”?

Em janeiro de  2021, a cotada GameStop que na altura era negociada a  menos de $20 por ação no início do mês, começou a subir exponencialmente, alcançando um pico de $480; Ora com subida estupenda que houve, os investidores institucionais que estavam vendidos foram “forçados” a recomprar as ações para limitar as suas perdas, o que aumentou ainda mais a pressão de compra, e consequentemente o seu preço; A subida no preço das ações atraiu ainda mais investidores, o tal sentimento de (Fear Of Missing Out), intensificando assim o movimento.

Quais foram as consequências para os investidores institucionais?

Na prática a grande consequência foi a restrição de negociação, pois, plataformas como a conhecida “Robinhood”, muito usada por investidores de retalho, restringiram de forma temporária a compra de ações da GameStop durante o ponto alto da volatilidade. Lembro-me que na altura esta atitude gerou muita indignação entre os investidores, que acabou em muitas acusações de as corretoras favorecem as grandes instituições. Outra consequência (se assim a quisermos chamar) foi a volatilidade extrema.

Conclusão

Se formos a números, é muito interessante. Depois de irmos de mínimos de $18/$20 até ao pico a rondar os $480, estima-se que as perdas dos “Short Sellers” foram de mais de $6 billions durante o movimento de “Short Squeeze”. Por outro lado, muitos investidores de retalho ganharam, enquanto outros que entraram mais tarde, já durante o movimento, sofreram perdas com a queda posterior.

Aprendizagens deste episódio

  • Poder do “coletivo”: grupos de investidores pequenos (retalho), de forma organizada podem influenciar de forma significativa os movimentos de uma determinada cotada no mercado;
  • Risco de “estar vendido”: o “Short Selling” pode ser muito arriscado, em ativos com alto um “Short Interest”;
  • Impacto das redes sociai: Plataformas como o Reddit e o Twitter tornaram-se ferramentas poderosas, pois, permitiram investidores minoristas reunirem-se e influenciar o comportamento desta cotada.

Por fim, eis a questão: como me posso proteger em caso de Short Squeeze? Vou enumerar alguns pontos a ter consideração:

  • Evitar ativos/instrumentos financeiros com um elevado “Short Interest” ou baixa liquidez;
  • Utilizar ordens “Stop Loss” e não utilizar a alavancagem em excesso, uma vez ouvi dizer que a alavancagem é uma pistola com balas, quem dá ou não o tiro somos nós, e nunca mais esqueci isto;
  • Acompanhar sinais de alerta, tais como, catalisadores ou um volume anormal de negociação;
  • Usar o “mercado de opções” para limitar riscos, mas antes de usar este “mercado de opções” que é algo complexo, perceber bem antes de usar o mesmo;
  • Ter disciplina e ajustar a sua estratégia ao menor sinal de um possível movimento de “Short Squeeze”.
Disclaimer:

RANKIA PORTUGAL: Este artigo é meramente informativo e educacional. As informações fornecidas aqui não podem ser consideradas como aconselhamento financeiro ou recomendação de compra / venda.

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