Warren Buffett reforma-se: as suas 5 lições como investidor

Warren Buffett, o lendário “Oráculo de Omaha”, confirmou que se reformará do cargo de CEO da Berkshire Hathaway no final do ano, culminando mais de seis décadas à frente do conglomerado investidor. Aos 94 anos, Buffett aproveitou a última assembleia geral anual de acionistas da Berkshire, em 2025, para anunciar a sua reforma e explicar que a decisão responde à necessidade de garantir uma transição ordenada e “que a companhia continue viva muito além de mim”.

Warren Buffett reforma-se do cargo de CEO da Berkshire Hathaway | Fonte: The Conversation

O seu sucessor já está definido: Greg Abel, de 62 anos, atual vice-presidente responsável pelas operações não seguradoras e figura-chave na empresa desde 1999, assumirá o cargo de CEO. A escolha transmite uma clara mensagem de continuidade, que Buffett tem vindo a reforçar junto dos acionistas há vários anos. “O Greg reúne a combinação certa de discernimento, energia e paixão pela Berkshire”, afirmou o investidor durante a assembleia realizada no sábado.

Mas Buffett não se desvinculará totalmente. Permanecerá como presidente do conselho de administração —um papel que, segundo sublinhou, lhe permitirá “manter-se disponível para consultas estratégicas e manter a cultura da organização”— enquanto cede a gestão diária. A Berkshire precisou em um comunicado que esta estrutura busca dar confiança aos mercados e preservar o estilo descentralizado que tem caracterizado o grupo.

Embora goze de boa saúde, o investidor reconheceu que a idade pesa:

“Ninguém é imortal; o melhor legado é garantir que o barco continue a navegar com um leme firme quando eu já cá não estiver”.

Warren Buffett à chegada à Assembleia Geral Anual de Acionistas da Berkshire

Como era de esperar, a notícia apanhou de surpresa tanto a conhecidos como a desconhecidos, embora ele próprio já tivesse avisado em 2024 que “o momento se aproximava”. Em qualquer caso, as ações de Berkshire Hathaway chegaram a recuar até 6% durante a sessão, acabando por fechar no pós-mercado no mesmo ponto de partida.

O maior legado de Buffett: Berkshire Hathaway

Não se pode entender o legado de Warren Buffett, sem falar de Berkshire Hathaway e a sua história de sucesso desde a quase falência.

Desta forma, quando Warren Buffett assumiu o controlo da Berkshire Hathaway, a 10 de maio de 1965, comprou pouco mais do que um tear têxtil em declínio; hoje, esse nome encabeça um conglomerado avaliado em cerca de 1,15 biliões de USD, que integra 189 negócios — desde os comboios da BNSF até a um vasto pacote de ações da Apple.

Desde então, a ação de classe A valorizou-se mais de 5.500.000 %; ou, dito de outro modo, cada dólar investido inicialmente transformou-se em cerca de 55.000 USD. Em consequência, a sua taxa de crescimento anual composta (CAGR) nos últimos 65 anos foi de 19,9 %, face aos 10,4 % do S&P 500 com reinvestimento de dividendos.

O mesmo juros compostos explica a fortuna pessoal do “Oráculo de Omaha”. Com 37 anos (1967) o seu património rondava os 10 milhões USD; hoje, aos 94 anos, supera os 168.000 milhões USD, apesar de ter doado mais de metade das suas ações. Em outras palavras, a sua riqueza multiplicou-se cerca de 17.000 vezes, e 99 % foi acumulado após os 50 anos, prova viva de que o tempo é o melhor parceiro do capital.

As 5 lições de investimento de Buffett

Apesar da enorme riqueza que conseguiu gerar para si e para os seus sócios, o que realmente perdura é o valor – tanto económico como intelectual – que foi capaz de transmitir à sociedade. Esse legado pode ser resumido nestas cinco grandes lições:

1. Círculo de competência

Resumido na célebre frase: “Invista apenas no que compreende.”

Para Buffett, a clareza contabilística e um modelo de negócio facilmente explicável são o melhor seguro contra erros dispendiosos. Por isso, evitou sempre empresas que não conseguia “desenhar num guardanapo”, mas investiu fortemente em negócios simples – e lucrativos – como a Coca-Cola (KO), McDonald’s (MCD) ou American Express (AXP).

2. Procure empresas com uma “trincheira” (vantagem competitiva)

O chamado moat (trincheira) representa a barreira que protege a rentabilidade da empresa e pode manifestar-se sob diversas formas: marcas com valor social inimitável, estruturas de custos imbatíveis, regulações que elevam barreiras à entrada ou redes de utilizadores que se reforçam automaticamente.

Buffett exige que essa vantagem competitiva se alargue ano após ano; daí a sua preferência por empresas como a Apple – com um ecossistema altamente integrado – ou os segmentos industriais especializados da Marmon.

3. Compre com margem de segurança

Inspirado por Ben Graham, este princípio defende que se deve pagar um preço inferior ao valor intrínseco calculado do ativo.

A margem de segurança funciona como um “colchão” que protege o investidor tanto de erros de avaliação próprios como da volatilidade do mercado. Se estima que o valor real de uma empresa seja 100, Buffett procurava comprá-la por 70 a 80.

Um exemplo emblemático foi a American Express (AXP), adquirida após o escândalo do “óleo de salada” em 1964 – uma das suas apostas mais rentáveis.

4. Be contrarian

Embora não se assumisse como um investidor sistematicamente contracorrente, demonstrava desconforto perante euforias de mercado em máximos históricos.

Prova disso foi o seu investimento de 5 mil milhões USD na Goldman Sachs no auge da crise de 2008, ou a redução de posições em tecnológicas em 2021, quando o entusiasmo do mercado atingia níveis extremos. O ponto-chave não está no risco em si, mas no preço que se paga por ele.

Como sintetizou em frase célebre:

“Tenha medo quando os outros são gananciosos, e seja ganancioso quando os outros têm medo.”

Uma ferramenta útil para medir o “humor do mercado” é o índice Fear & Greed Index da CNN, publicado diariamente.

5. Acompanhe o estado geral da economia

Desde 2001, Buffett popularizou um indicador conhecido como Indicador Buffett (capitalização bolsista/PIB), que considera “provavelmente a melhor métrica para avaliar o nível de valorização do mercado”.

Actualmente, este indicador não se encontra muito abaixo dos máximos, tendo ultrapassado os 200% em 2024 e recuado nos últimos meses para a faixa dos 180%–190%. Estes níveis continuam historicamente elevados e explicam a abordagem prudente mais recente da Berkshire Hathaway, que detém uma posição de liquidez significativa, superior a 334 mil milhões USD.

A saída de Buffett do cargo de CEO da Berkshire Hathaway marca o fim de uma era. A liderança passa agora para Greg Abel, com a responsabilidade de manter a integridade de uma máquina de criação de valor baseada em três pilares fundamentais, que Buffett reforça todos os meses de maio perante os seus accionistas:

Disciplina, paciência e o poder dos juros compostos