O Método Wyckoff: Guia para entender as manipulações do mercado
Já alguma vez se interrogou sobre como se processam os movimentos dos grandes investidores no mercado, o chamado capital institucional, que compram e vendem tudo de uma só vez ou que abrem e fecham pequenas posições gradualmente?
Neste guia do método Wyckoff, mostrar-lhe-emos como funcionam estes grandes players, com base nos ensinamentos do investidor Richard Wycfkoff.
Falaremos sobre tudo isto em pormenor em diferentes artigos, mas, antes de mais, permitam-me que contextualize brevemente a razão pela qual lhe chamamos método “Wyckoff” e quais são os principais pilares analíticos que propõe.
Quem foi Richard Wyckoff?
Falamos do “Método Wyckoff” porque estas ideias de análise vêm de uma personalidade americana chamada Richard D. Wyckoff(1873-1934) que teve a amabilidade de divulgar todo o seu conhecimento sobre os mercados financeiros, com especial destaque para a análise do volume como proxy para detetar as manobras de manipulação dos grandes profissionais desses anos..
Richard Wyckoff
Richard Wyckoff foi uma figura de destaque na análise técnica no início do século XX, contemporâneo de personalidades como Charles Dow e Jesse Livermore.Apesar da sua relevância, o seu legado não teve o mesmo reconhecimento que o dos seus pares, possivelmente devido ao facto de a análise técnica moderna se centrar em indicadores e padrões complexos, afastando-se da simplicidade promovida por Wyckoff.
Começou a sua carreira no mercado de acções muito cedo, trabalhando ao lado de grandes figuras e fundando duas importantes publicações financeiras do seu tempo:
- “The Magazine of Wall Street“, que chegou a ser a revista mais importante do país.
- “The Trend Letter”, um serviço de consultoria financeira onde partilhava as suas opiniões sobre os mercados financeiros com base na sua forma de ler o preço e o volume..
The Magazine of Wall Street de Richard Wyckoff
No final da década de 1920, Wyckoff enfrentou problemas pessoais e de saúde, o que o levou a retirar-se temporariamente para a Riviera Francesa. No entanto, em 1929, apercebeu-se de que o mercado estava prestes a entrar em colapso, pelo que regressou aos EUA para avisar amigos e clientes, sem sucesso. Posteriormente, em 1931, fundou uma escola para ensinar as suas técnicas de investimento, que rapidamente se tornou um sucesso.
Obras notáveis de Wyckoff
Wyckoff foi prolífico no seu trabalho como educador. Para além das duas revistas acima mencionadas (The Magazine Of Wall Street e The Trend Letter), publicou vários livros e fundou uma escola de formação em 1931. Os seus livros incluem os seguintes:
- Studies in Tape Reading: de 1910, e publicado sob o pseudónimo de Rollo Tape.
- Stock Market Technique I e Stock Market Technique II: que inclui uma grande parte dos artigos publicados na sua revista.
Principais obras de Richard Wyckoff
- Wall Street Ventures and Adventures Through Forty Years: um romance extraordinário ao estilo de “Memórias de um Operador de Bolsa” de Jesse Livermore.
- The Richard D. Wyckoff Method of Trading and Investing in Stocks: a course of instruction in stock market science and technique – Curso oficial de Wyckoff publicado como material de estudo da própria escola.
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Componentes da especulação seungo Wyckoff
Segundo Wyckoff, a especulação bolsista tem três dimensões que um trader deve dominar: ciência, técnica e uma pitada de arte.
Ciência
A ciência é a parte que estuda os factos que afectam o mercado ou o ativo específico que estamos a analisar. Neste domínio, Wyckoff centra a sua atenção em TRÊS LEIS que estão na base do comportamento do mercado:
- LEI DA OFERTA E DA PROCURA.
- LEI DE CAUSA E EFEITO.
- LEI DE ESFORÇO VS RESULTADO.
Falaremos delas mais adiante.
Técnica
A técnica é o método, os aspetos mecânicos que utilizamos para analisar a “ciência”. E para isso, Wyckoff utilizou:
- Gráficos verticais (ou gráficos de barras).
- Gráficos de pontos e figuras (gráficos P&F, a seguir designados por gráficos P&F).
- Gráficos de ondas (ou gráficos de ondas).
Em artigos futuros, explicarei a utilização que Wyckoff faz dos gráficos P&F e dos gráficos ondulatórios, que merecem artigos dedicados. Mas, em jeito de antevisão, Wyckoff utilizava estas três ferramentas para analisar sobretudo as ações, de um ponto de vista particular, mas também para as analisar relativamente ao sector e ao mercado.
Esta última é o que chamamos de “análise de força relativa” e é muito importante dentro da análise sob as ideias de Wyckoff, por isso também merece artigos específicos a serem dedicados posteriormente.
Arte
A especulação, No fim de contas, quer queiramos quer não, tem uma elevada componente artística. Um bom trader, por mais que aprenda a analisar e interpretar o mercado, precisa de desenvolver uma aptidão e, para isso, é necessária muita experiência, muita prática e uma pitada de talento (arte) para traduzir todos estes conceitos em estratégias específicas que sejam rentáveis e sustentáveis a longo prazo.
As leis do mercado segundo o Método Wyckoff
Como uma das filosofias mais determinantes da análise técnica, o mais destacável da metodologia Wyckoff é analisar muito bem os princípios e leis fundamentais que regem o movimento dos preços. Ou seja, temos de dominar “a ciência” e isto fazemos através do estudo das variáveis do PREÇO e do VOLUME.
As principais leis do mercado, segundo Wyckoff, são:
- LEI DA OFERTA E PROCURA.
- LEI DE CAUSA E EFEITO.
- LEI DE ESFORÇO VS RESULTADO.
Vamos vê-las com algum detalhe:
Lei da Oferta e Procura
A Lei da Oferta e Procura explica por que o preço de um ativo tenderá a subir à medida que a procura supera a oferta; e o preço tenderá a baixar à medida que a oferta supera a procura.
Podemos explicá-lo com os clássicos gráficos de economia da faculdade (ver imagens seguintes).
O eixo X representa a quantidade de um bem ou de um serviço (ou de ativo financeiro, como é o nosso caso). E no eixo Y, o preço de cotação (ou o preço do bem ou serviço).
A linha da procura terá, normalmente, uma inclinação negativa, já que, a maior preço, o normal é que a procura do ativo diminua. E, a menor preço, o normal é que aumente.
A linha da oferta terá uma inclinação positiva ascendente, uma vez que, a maior preço, o incentivo para vender unidades desse ativo aumentará.
Por que sobe o preço de um ativo?
Então, do ponto de vista da oferta e da procura, por que sobe o preço de um ativo?
O aumento do preço de um ativo pode ser explicado por dois motivos:
- Ou porque se verifica um aumento da procura, ceteris paribus (isto é, mantendo as restantes variáveis estáticas), ou
- Porque a oferta diminui, ceteris paribus.
Num gráfico, representamos isto da seguinte maneira:
Lei da Oferta e Procura: Por que sobe o preço de um bem ou serviço?
E quais são as razões pelas quais o preço de um ativo cai?
De forma análoga, diremos que:
- O preço cai porque se verifica um aumento da oferta em relação à procura.
- Ou, porque o nível da procura diminui em relação à oferta (ceteris paribus, claro).
Lei da Oferta e Procura: Por que baixa o preço de um bem ou serviço?
Esta explicação teórica não é trivial, pois ajuda-nos a entender que TODO AUMENTO ou DIMINUIÇÃO do preço se deve a um momento em que ocorre um DESEQUILÍBRIO entre a oferta e a procura. Esse desequilíbrio materializa-se quando a procura supera a oferta (produz-se um movimento ascendente), ou quando a oferta supera a procura (produz-se um movimento descendente).
- Movimento tendencial ascendente: a procura supera a oferta, quer por um aumento repentino da procura em relação ao nível de oferta que existia naquele momento, quer porque a oferta se reduz significativamente em relação ao fluxo de procura atual.
- Movimento tendencial descendente: a oferta supera a procura, quer por um aumento repentino da oferta em relação ao nível de procura que existia até aquele momento, quer porque a procura se reduz significativamente em relação ao fluxo de oferta naquele momento.
Se pensarmos nisso, no mercado, ou num ativo em concreto, está-se a produzir uma batalha constante entre oferta e procura.
Lei de Causa e Efeito
Wyckoff ensinou-nos que TODO movimento tendencial do preço deve ter a sua origem num processo prévio de acumulação ou distribuição. Ou, dito de outra forma, que todo EFEITO tem a sua CAUSA.
Estes processos de “causa” e “efeito” (acumulação/distribuição e tendência) gosto de expressá-los em termos de “equilíbrio” e “desequilíbrio”, como antes sugeria ao falar da oferta e da procura.
Num processo de “causa”, rigorosamente, não existe supremacia nem da oferta sobre a procura, nem da procura sobre a oferta, por isso o preço tende a mover-se num intervalo lateral mais ou menos definido que chamamos de “correção” ou “intervalo lateral”.
Nesses momentos, o preço do ativo está em equilíbrio e podemos dizer que “o profissional” está a acumular ou a distribuir, ou dito de outra forma: está a “construir a causa”.
Quando uma destas duas variáveis “enfraquece”, ou seja, a oferta diminui em relação à procura, ou vice-versa, então voltamos a ter um estado de supremacia por parte de uma destas variáveis sobre a outra e o mercado volta a entrar em DESEQUILÍBRIO, produzindo-se um movimento tendencial, que é o “EFEITO” da “CAUSA” prévia.
Lei de Esforço Vs Resultado
A última Lei de Wyckoff diz-nos que todo esforço que se produz no mercado (ou num ativo concreto) deve ter um movimento em harmonia com esse esforço. Ou seja, deve ter um resultado de acordo com esse esforço. Se observarmos que esse resultado não se produz, então podemos estar perante uma inversão do preço.
Como traduzimos esta terceira Lei na ação do preço e do volume?
De novo, dizer que compreenderemos melhor quando abordarmos a compreensão do livro de ordens. Em qualquer caso, a ideia principal agora é entender que quando o preço de um ativo se confronta com uma área significativa de suporte ou de resistência, é necessário observar o volume porque é ele que nos dá a medida do esforço, e a reação do preço será o resultado.
Em princípio, o saudável para que exista harmonia entre esforço e resultado é que o preço quebre a área de suporte e resistência com velas de intervalo amplo, feche nos máximos (ou nos mínimos), e volume crescente. A isto também chamamos VELA DE INTENÇÃO (ou volume de intenção). Vejamo-lo numa imagem:
Esforço vs resultado Wyckoff: Vela de intenção
Este gráfico corresponde ao futuro do miniSP numa dimensão de 5 minutos (cada vela são 5). Este é um exemplo extremo, muito exagerado, muito ideal, mas útil para transmitir a ideia com precisão. Haverá tempo de dar exemplos mais subtis e complexos, embora verão que, mesmo que algumas vezes não sejam tão evidentes, no final, a ideia é essencialmente a mesma e o olho acaba por aprender a vê-lo.
No exemplo da imagem, vemos um intervalo lateral que podemos etiquetar com os eventos e fases de Pruden. Podemos ver como, depois da fase C (Spring), o preço enfrenta a corrente, e é lógico que aí, na corrente, existam vendas potenciais dispostas a entrar que possam pôr em perigo a rutura do intervalo pelo lado altista. A procura, se quiser superar essa zona, terá de fazer um ESFORÇO, terá de ABSORVER toda essa almofada de oferta residual que encontra no caminho e lhe complica as coisas. Essa pressão, esse esforço, vemo-los expressos no aumento do volume e na ampliação do intervalo da vela, juntamente com o seu fecho nos máximos.
Esquemáticas de acumulação e distribuição segundo Wyckoff
E é assim, dentro desta terceira lei de causa e efeito, que encontramos uma das grandes contribuições de Wyckoff para toda a teoria de análise técnica.
Wyckoff sugeriu que, com base nesta concatenação de “causas” e “efeitos” (equilíbrios e desequilíbrios), o mercado pode encontrar-se em três possíveis fases: acumulação, distribuição ou fase tendencial.
Podemos representá-lo com a seguinte imagem:
Fases do mercado Wyckoff: acumulação, distribuição ou fase tendencial
Vamos aprofundar nestas fases, principalmente nas CAUSAS, e para isso farei uso das esquemáticas de Hank Pruden, que são as mais completas e tornaram-se o padrão para analisar o mercado sob as ideias de Wyckoff.
Esquemática de acumulação
O seguinte é um gráfico de Jim Forte, mas construído com base em Pruden.
Acumulação Wyckoff
O que mostra é o esquema básico das fases e eventos que costumam ocorrer num PROCESSO DE ACUMULAÇÃO.
Vemos duas coisas: por um lado, uma série de FASES (desde a A até à E); e, por outro, uma série de EVENTOS que indicam diferentes comportamentos entre a OFERTA E A PROCURA. Ambos, fases e eventos, ajudam-nos a ler, interpretar e sequenciar como se desenvolve essa batalha entre a oferta e a procura e quais são as zonas-chave onde podem acontecer “coisas” importantes.
FASE A
A Fase A é onde o caráter do mercado muda. Passamos de um caráter nitidamente baixista, com um claro desequilíbrio a favor da oferta, para uma situação de equilíbrio, uma vez que começa a aparecer uma procura significativa que interrompe a queda. Estamos no prelúdio do processo de acumulação.
- PS (Preliminary Support) ou suporte preliminar. Dentro desta Fase A, o primeiro evento importante que aparece. Aqui é onde começam as compras substanciais e fornece um suporte/resistência-chave. No PS, o aumento de volume costuma ser extraordinário, o que indica a aparição de nova PROCURA interessada em comprar.
- O SC (Selling Clímax) ou Clímax de venda: Este é o ponto em que a pressão vendedora atinge o seu clímax e a venda massiva é absorvida pelo interesse comprador profissional. O SC costuma marcar a parte inferior do canal de acumulação e é uma zona muito importante. Também costuma vir acompanhado de um aumento de volume significativo.
- AR (Automatic Rally) ou Rally automático: O último evento da Fase A. Esta é a reação altista lógica e normal que ocorre devido à onda de compras que houve, tanto no PS quanto no SC.
O máximo do AR ajuda a definir a parte superior do intervalo de cotação e é também uma zona chave. Evans, discípulo de Wyckoff, chamou-lhe CREEK, como metáfora, pois constituía uma barreira (resistência) difícil de atravessar para um escuteiro que caminha pela floresta. Na metáfora, o escuteiro é a PROCURA e o Arroyo é a RESISTÊNCIA.
FASE B
A Fase B é a fase de equilíbrio de facto entre a oferta e a procura, por isso o preço tenderá a mover-se entre os limites do intervalo que definem o AR e o SC. Não tem uma duração predeterminada, mas não é raro que a Fase B tenda a dilatar-se mais do que outras (embora haja muitas exceções, e discutiremos isso).
Tanto na Fase B como nas outras, podem aparecer Secondary Test (ou Testes secundários), que são momentos em que o preço volta a visitar as proximidades dos limites do intervalo, mas fá-lo sem força, sem pressão, por isso geralmente expressam-se com velas de intervalo estreito e pouco volume à medida que se aproximam dessas zonas de suporte e resistência, terminando por girar e regressar ao interior do intervalo.
FASE C
A Fase C marca o início do fim desse equilíbrio entre oferta e procura. Caracteriza-se por ser comum que ocorra uma ruptura parcial da zona da procura, como se a oferta fosse romper o suporte com força para continuar com a tendência baixista. A diferença é que essa pressão é apenas fugaz, um engano em forma de sacudida, pois o preço recupera a área de trading (ou intervalo), o que indica que a procura continua a ter o controlo.
A este evento de falsa ruptura chamamos SPRING e funciona, na prática, como uma sacudida ou Shake-out que costuma provocar duas coisas:
- Engana todos aqueles que pensam que a tendência baixista se vai reanudar.
- Faz disparar os stops dos que se posicionaram corretamente no lado altista e se protegeram perante uma eventual queda do preço abaixo do suporte.
O Spring pode vir acompanhado de um Secondary Test que vem confirmar que a oferta não pressiona e a procura está pronta para dar o impulso necessário e enfrentar o arroyo (creek).
FASE D
Na Fase D ocorre o enfraquecimento ou a ruptura do intervalo de acumulação pelo lado longo. Continuando com a metáfora do escuteiro, é como se este tivesse encontrado uma parte do arroyo de menor profundidade (há pouca oferta flutuante) e agora pode dar um salto para passar para o outro lado sem medo de se molhar.
Esse “salto do arroyo” é o que em inglês chamamos de JAC, Jump Across The Creek, e simboliza esse sinal de força (SOS, Sign Of Strength) por parte da procura, que já não tem oposição de envergadura (oferta residual) que lhe cause problemas. Normalmente, costuma ser expresso com velas de intervalo amplo, fecho nos máximos e volume crescente.
FASE E
Por fim, o preço sai fora do intervalo de acumulação, embora seja comum que volte a testar a zona do arroyo superada. Este regresso à zona do arroyo chamamos de Back to the creek (BU) ou Last Point of Support (LPS), que funciona como um Teste que nos confirma que a oferta já não tem força para devolver o preço ao interior do intervalo e, portanto, a procura tem o controlo da situação, o desequilíbrio voltou e o preço só pode começar a mover-se de forma tendencial pelo lado altista.
Esquemática de distribuição
A fase de distribuição expressa-se de forma análoga à de acumulação. Há diferenças subtis que abordarei mais tarde noutros artigos, mas a essência é a mesma, por isso vamos revê-la de forma mais superficial.
Na imagem seguinte partilho o esquema teórico de Pruden sobre a fase de distribuição e a sua esquemática com os eventos de Wyckoff.
Distribuição de Wyckoff
Fase A encontramos:
- SY (Preliminary Supply) ou Oferta Preliminar, que marca a entrada significativa de oferta que começa a mudar o caráter do mercado.
- BC (Buying Clímax), que representa as últimas tentativas da procura para tentar manter a tendência.
- AR (Automatic Response), que marca a parte inferior do intervalo de distribuição, também podemos chamar de ICE (Gelo). O ICE é, na metáfora de Evans, o escuteiro que caminha por um rio gelado que mais tarde acabará por se quebrar na Fase D.
Na FASE B:
- Voltam a surgir Testes Secundários (ST), que denotam a incapacidade da procura de elevar o preço.
- Também podem ocorrer pequenas rupturas do intervalo, tanto por cima (Up-Thrusts), quanto por baixo (SOW, Sign Of Weakness).
- O relevante é esperar pelo UTAD (Up-Thrust After Distribution), que marca o fim da FASE B e o início da FASE C.
Neste contexto, se realmente a oferta tomou o controlo da situação, o preço deve dirigir-se até à parte inferior do intervalo e rompê-lo. A esse evento chamamos BTI (Break The Ice) ou SOW (Sign Of Weakness) e estaríamos em plena FASE D. E se tudo correr bem, depois deve ocorrer um BACK à zona de gelo para continuar com a tendência baixista na FASE E.
Estes são os fundamentos teóricos sem me estender demasiado para não tornar esta guia básica sobre o Método Wyckoff demasiado densa.
A importância do volume
Uma questão que deve ser abordada neste momento é por que o volume de negociação e o preço podem ser úteis para fornecer informações sobre como se está a desenvolver o JOGO (batalha) entre a OFERTA e a PROCURA. Será que o volume realmente serve como um proxy para responder a todas as questões anteriores?
A primeira resposta intuitiva deveria ser que NÃO, que o volume não é útil porque uma unidade de volume tem sempre o mesmo número de COMPRAS que de VENDAS (em concreto uma compra e uma venda). Portanto, se numa barra de volume há sempre o mesmo número de compras que de vendas, em que medida essa informação pode ser útil?
Para responder a esta questão, temos de explicar como funciona o fluxo de ordens de compra e venda. Este é um assunto um pouco mais complexo que abordaremos num artigo específico mais tarde. Agora, interessa-me entender que aumentos ou diminuições significativas no volume nos darão pistas sobre aumentos ou diminuições significativos do interesse comprador ou vendedor dos grandes profissionais, e isso é uma informação muito valiosa.
Vejamos um exemplo simples
O seguinte é o gráfico da META em dimensão mensal (cada vela é um mês). Preste atenção aos aumentos de volume enormes que ocorrem nas quedas, especialmente nos dois meses que ocorrem no final de 2023.
Wyckoff e o volume
O que pode ter acontecido em termos de oferta e procura? Não te chama a atenção tanto volume antes da subida que ocorre depois?
Como disse antes, mais tarde aprenderemos a interpretar o livro de ordens, e com o trading com volume tudo será mais fácil de entender. Mas para perceber em que medida o volume fornece informações úteis sobre o grau de compras e vendas que existe em determinados níveis de preço, basta-nos agora deduzir que toda essa quantidade enorme de volume que vemos no gráfico nesses dois momentos tem de responder, sim ou sim, a uma enorme entrada de nova procura que começou a acumular ações da META nos níveis de 200 e 125 dólares, respetivamente.
Como podes ver, o volume muito alto deixa pistas muito valiosas que podemos aprender a interpretar e aproveitar.
Estratégias de trading com Wyckoff
Wyckoff tem vários defeitos (também falaremos sobre isso) e um deles é que, infelizmente, NÃO É UM SISTEMA CONCRETO DE INVESTIMENTO. Ou seja, não propõe setups específicos de entrada e saída que possam ser universais para todos os operadores.
Não. Wyckoff é apenas um quadro teórico de leitura do gráfico que ajuda a interpretar o que pode estar a acontecer em termos de oferta e procura em determinados níveis de preço. Só isso. O que já não é pouco.
Em qualquer caso, podemos esboçar estratégias de investimento concretas ou, pelo menos, partilhar ideias genéricas com as quais depois, cada operador possa refletir para concretizar como adaptá-las ao seu próprio sistema de investimento.
Noutro artigo, falaremos da “check list” de 9 passos que Wyckoff propôs antes de considerar abrir uma posição, e dos cinco passos de Craig Schroeder para o mesmo propósito. No entanto, gostaria de partilhar agora um tipo de entrada que, para mim, é a melhor. Espero que sirva agora como uma simples “pílula” que ajude a refletir sobre a utilidade de Wyckoff a nível operativo.
Entrada no SPRING ou UP-THRUST
Se pessoalmente tivesse de escolher apenas um setup de entrada, seria a entrada no spring ou no upthrust do método Wyckoff (embora prefira o spring por algo que também teremos oportunidade de debater).
Há várias razões para preferir um setup de entrada na zona do spring:
- Quando aparece, já temos “à esquerda” alguns eventos e fases que nos ajudam a ter algum contexto e a delimitar com certa precisão quais são os intervalos do processo de acumulação ou distribuição.
- O spring é um evento chamativo, pois começa com uma ruptura que aparenta intencionalidade (harmonia entre esforço e resultado), mas depois quebra e mostra ser um engano (não há harmonia entre esforço e resultado). Esse momento de recuperação do intervalo nem sempre é fácil de detectar em tempo real, por isso, muitas vezes é melhor esperar por um secondary test posterior (ST) e então planear a entrada.
- Geralmente permite colocar um Stop de proteção bem apertado, logo abaixo do spring (ou up-thrust) ou logo abaixo (acima) do extremo do intervalo de acumulação/distribuição.
- O objetivo potencial de movimento está, em primeira instância, no arroyo (ou gelo). É aí que a oferta (ou a procura) voltará a ter incentivos para aparecer novamente. Em segunda instância, se o preço terminar por romper (salto do arroyo ou deslizar do gelo), o potencial de movimento pode ser ainda maior e as opções de otimizar a relação benefício/risco aumentam.
Vejamos um exemplo teórico ideal sobre Bitcoin.
SPRING ou UP-THRUST em Wyckoff sobre Bitcoin
O gráfico mostra os mínimos que a criptomoeda teve no final de 2022 quando perdeu os 20 mil dólares por bitcoin.
Etiquetei os diferentes eventos de Wyckoff que aprendemos acima. Não especifiquei as fases para não congestionar demasiado o gráfico.
Qual é a ideia da entrada no spring? Esperar que o preço recupere o intervalo de trading. Na medida em que me adiante a essa recuperação, estarei a assumir maior risco, pois aí a procura ainda não demonstrou a sua força. Agora, quando o preço recupera o intervalo, a situação muda. É aí que temos uma oportunidade interessante para “tentar a sorte”.
Claro que nem sempre é fácil entrar. Este é um exemplo ideal com o único objetivo de entender a ideia subjacente. Já sabemos que o mercado é complexo e nem sempre facilita as coisas. Em qualquer caso, se conseguirmos entrar na zona do Spring, temos diante de nós o potencial de que o preço visite, pelo menos, a parte superior do canal. Esse deve ser o primeiro objetivo a alcançar.
Muitas vezes, com esse movimento já estaremos satisfeitos com o resultado e podemos fechar a operação. Agora, a potencialidade é que o preço termine por romper o intervalo.
Quando sair da posição ou como geri-la?
A saída da operação deve ser SEMPRE planeada ANTES de entrar.
É imprescindível saber onde estão os limiares de preço que, automaticamente, estariam a invalidar de início a tua hipótese de entrada. De modo que, se o preço terminar por atingi-los, deves fechar a tua operação sem hesitar, assumindo a perda correspondente.
É importante que essa perda represente uma fração aceitável da tua conta, em termos de gestão monetária. Wyckoff, a este respeito, recomendava que NUNCA abríssemos uma operação com uma relação risco/benefício inferior a três. Ou seja, se esperavas ganhar 10 pontos, não devias arriscar mais de 3,3 (aproximadamente) no caso de o mercado não te dar razão.
Portanto, a primeira pergunta que deves fazer-te ANTES de abrir a operação é: O potencial de movimento é suficientemente amplo para cobrir pelo menos três vezes a distância até ao STOP LOSS?
Para responder a esta pergunta, temos de saber antes ONDE COLOCAR O STOP e ONDE ESTÁ O MOVIMENTO POTENCIAL MÍNIMO que o preço pode ter se as coisas correrem bem.
A resposta genérica a estas duas perguntas, dei-a no início: teremos de colocar o STOP de proteção e a ordem de saída nos níveis de preço onde automaticamente se invalida ou termina a tua hipótese de entrada.
A hipótese de entrada é que o preço voltou a entrar no intervalo de acumulação após o evento do SPRING, portanto, a procura agora tem o controlo e o previsível é que a oferta se retire, que deixe de pressionar.
- STOP: Em que nível de preço podemos concluir que o que parecia ser um SPRING terminou por não sê-lo? Obviamente, abaixo do mínimo do SPRING. No caso do BITCOIN que nos serve de exemplo, abaixo dos 16.000.
- SAÍDA DA OPERAÇÃO: Em que nível de preço podemos concluir que o preço que está a subir pode começar novamente a ter dificuldades devido a uma nova entrada de oferta que possa travar o avanço do preço? Na parte superior do intervalo de acumulação. Ou seja, na zona de preços que desenha o AR. O que também chamamos de “ARROYO”.
Este é apenas um exemplo de como dar “praticidade” e uso prático a um conjunto de ideias, como as de Wyckoff, que não são matematicamente objetivas e que também não propõem regras universais de entrada e saída para todos os operadores.
No entanto, no final, a aplicação prática deve corresponder em última instância a cada operador. Ou seja, é responsabilidade de cada operador ou investidor, desenhar as regras específicas de entrada e saída do seu próprio sistema, com base nas ideias de Wyckoff de forma pura ou combinando-as com qualquer outro método analítico, seja técnico ou fundamental.
Como sempre digo: a criatividade das pessoas é infinita e, provavelmente, existem estratégias que nunca me ocorreriam, por muito tempo que esteja nos mercados, e que podem ser o veículo do teu sucesso na especulação.
O Método Wyckoff | A opinião de Enrique Valdecantos
O conjunto de ideias do Método Wyckoff é relativamente fácil de entender. Daí que tenha tanto seguimento e uso por parte de milhares de investidores em todo o mundo. Mas, infelizmente, não é o Santo Graal.
Nestes artigos, gostaria de aprofundar Wyckoff, mas quero fazê-lo de um ponto de vista crítico e pessoal. Acho que é aí que está o verdadeiro valor. Não podemos ficar apenas com o bonito. Certamente, tem muitas vantagens: ajuda-nos a ler o gráfico com mais profundidade do que se apenas procurarmos padrões chartistas.
O método Wyckoff | Livro de Enrique Diaz Valdecantos
O volume e o preço ajudam a entender o que está a acontecer no mercado em termos de oferta e procura. E as estratégias que se esboçam com Wyckoff como base têm uma fundamentação que muitas outras não têm. No entanto, existem críticas, limitações e ambiguidades das quais também gostaria de falar em detalhe. Sou da opinião de que, se abordarmos rigorosamente todas as possíveis “falhas” de qualquer ideia, tiraremos mais proveito para obter benefícios.
Se quiseres mais informações, fica atento ao Rankia. Começamos esta colaboração que confiamos que gostes. Também te convido a visitar o meu portal web, onde tenho recursos adicionais que espero também sejam valiosos para ti.
Em suma, o método Wyckoff é uma filosofia de interpretação que procura prever os movimentos do mercado com base em processos de acumulação e distribuição, e na intensidade dos mesmos (esforço e resultado), do que nesse momento está a acontecer com a oferta e a procura.
Bem-vindos ao mundo Wyckoff!
RANKIA PORTUGAL: Este artigo é meramente informativo e educacional. As informações fornecidas aqui não podem ser consideradas como aconselhamento financeiro ou recomendação de compra / venda.