Terras raras: o que são e como investir
Inteligência artificial, blockchain ou tratamentos de vanguarda tecnológica na área da saúde — sabia que tudo isto depende de uma série de elementos que, longe de estarem “na nuvem”, se encontram debaixo do solo?
Estamos a falar de um conjunto de elementos conhecidos como terras raras, fundamentais para impulsionar a revolução tecnológica que já começámos a experienciar. Por isso, neste artigo, abordamos a situação atual destes materiais, porque são relevantes e de que forma é possível aceder ao seu mercado de forma simples.
O que são as Terras Raras e por que razão se chamam assim?
As terras raras referem-se a um grupo de 17 elementos químicos, que incluem os 15 lantanídeos (lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio e lutécio), bem como o escândio e o ítrio.

Apesar do nome, e de forma algo paradoxal, estes elementos não são particularmente raros em termos de abundância na crosta terrestre. No entanto, geralmente encontram-se dispersos e misturados com outros minerais, o que torna a sua extração complexa e dispendiosa.
A sua importância reside nas propriedades físicas e químicas únicas, como a elevada condutividade magnética e eletrónica, bem como a resistência à corrosão. Estas características fazem destes elementos componentes indispensáveis para a produção de tecnologia avançada, nomeadamente:
- Motores de veículos elétricos
- Turbinas eólicas
- Dispositivos eletrónicos (telemóveis, tablets, computadores)
- Sistemas de defesa e equipamento militar
- Ecrãs de alta definição e luzes LED
E, naturalmente, devido à crescente procura por parte da indústria tecnológica e energética, as terras raras são vistas como um ativo estratégico e de elevado valor, criando oportunidades relevantes no mercado de matérias-primas.
Mais informações ➡️ Como investir em matérias-primas?
As terras raras estão sob controlo da China?
Embora as terras raras estejam distribuídas por diversos pontos do mundo, a sua extração e processamento não é simples nem económico. Não se trata apenas de instalar uma mina onde exista o recurso. Muito pelo contrário: há inúmeros obstáculos relacionados com a viabilidade económica dos projetos, bem como práticas de natureza quase monopolista por parte da China, o que tem dificultado significativamente o acesso a estes materiais por parte de empresas na linha da frente do desenvolvimento tecnológico global.
O processo exige investimento elevado em infraestruturas, tecnologia e mão de obra especializada. E foi precisamente nesse ponto que a China, já em meados da década de 1980, reconheceu o valor estratégico destes elementos e investiu no desenvolvimento de toda a cadeia de produção e refinação.
Como resultado, atualmente, a China controla cerca de 60% da extração e 90% do refino mundial de terras raras, dominando assim um recurso essencial para as indústrias tecnológicas e energéticas a nível global.

Entre 60% e 90% da produção mundial de terras raras é realizada na China. Fonte: Visual Capitalist
Esta posição privilegiada da China no mercado global é reforçada pela economia de escala que conseguiu desenvolver nesta área. Ao ter iniciado um esforço de investimento de forma precoce e contínua, o país construiu uma cadeia de valor altamente eficiente na extração e refinação de terras raras, o que torna muito difícil viabilizar projetos semelhantes noutras partes do mundo, devido aos elevados custos de investimento envolvidos.
China reage ao protecionismo de Trump
E foi neste contexto — num momento marcado por alguma incerteza, com os mercados a atingirem máximos históricos (SP500, Nasdaq, Europa, ouro, Bitcoin, imobiliário, entre outros) — que surgiram novas tensões no cenário geopolítico internacional.
Desta vez, o foco virou-se para o Oriente: a China anunciou a imposição de restrições mais apertadas à exportação de elementos de terras raras e de tecnologias associadas (como os ímanes), invocando razões de “segurança nacional”.
Essas restrições exigiriam que as empresas estrangeiras que utilizam componentes com estes elementos obtivessem licenças e revelassem parte das suas tecnologias de produção (mesmo que apenas 0,1%). Isto criaria um estrangulamento nas cadeias de abastecimento globais, com impacto particular nas indústrias de alta tecnologia, defesa e veículos elétricos.
Os EUA reconhecem o alcance estratégico
Em resposta, e mantendo o seu estilo assertivo, Donald Trump anunciou tarifas de 100% sobre as importações chinesas, com entrada em vigor a partir de 1 de novembro, como medida retaliatória.
A possibilidade de uma nova guerra comercial causou uma queda abrupta nos mercados, com o índice SP500 a recuar 3% e o Nasdaq a cair mais de 5%, sem sinais de recuperação até ao momento. O maior impacto foi sentido no Bitcoin, que registou a primeira vela descendente de 20.000 pontos da sua história, sugerindo um possível movimento de correção em baixa. A estrutura de máximos foi quebrada com força (linhas azuis), e resta agora saber se o nível de suporte histórico (linha roxa, desde outubro de 2023) funcionará como travão.

Preço do Bitcoin após a sua primeira vela negativa de 20.000 pontos na história
Fonte: TradingView
Poucas horas depois, num tom mais moderado, Trump tentou acalmar os mercados ao declarar que “tudo ficará bem com a China” e que os EUA não pretendem prejudicar o país vizinho, nem provocar uma recessão em Pequim. Ainda assim, o impacto inicial mantém-se visível nas cotações.
O futuro tecnológico… nas mãos da China
Somando a este cenário o atual contexto de formação de blocos económicos (Ocidente, BRICS, países árabes), torna-se evidente que a dependência das terras raras da China representa um risco estratégico para muitos países.
As fricções comerciais — incluindo os novos direitos aduaneiros impostos pela administração Trump — poderão encarecer ou limitar o acesso a materiais críticos, colocando em causa setores como a eletrónica, a mobilidade elétrica e a indústria da defesa.
Como procuram os EUA reduzir a sua dependência da China?
Se estes elementos são tão essenciais para o desenvolvimento das indústrias tecnológica e militar, será que não estão já a ser apoiados com subsídios pelos países ocidentais?
Durante muitos anos, os Estados Unidos praticamente abandonaram a sua própria produção, devido aos elevados custos ambientais e à forte concorrência da China. Algumas minas chegaram mesmo a ser encerradas.
Contudo, a partir do segundo mandato de Donald Trump, este cenário começou a mudar de forma significativa. Um dos episódios mais mediáticos foi a negociação com o presidente ucraniano, Volodímir Zelensky, para explorar 50% dos minerais da Ucrânia, semanas depois do polémico encontro entre ambos na Casa Branca.

Para além disso, ficaram célebres as declarações de Trump sobre a compra da Gronelândia ao Reino da Dinamarca. Embora tenha parecido uma ideia absurda, Gronelândia possui 43 dos 50 materiais que o governo norte-americano considera críticos para o desenvolvimento da sua indústria.
E no caso específico das terras raras, sabe-se que cerca de 2% das reservas mundiais conhecidas estão localizadas naquele território. No entanto, prospeções mais recentes sugerem que, sob o gelo, poderão existir reservas muito superiores, estimadas entre 15% e 25% do total mundial.

Reservas mineiras na Gronelândia | Fonte: Science Direct
Como investir nas terras raras?
Está claro que existe um problema de escassez — para além de questões geopolíticas — no fornecimento destas matérias-primas. E, naturalmente, onde há procura elevada e oferta limitada, surgem oportunidades no mercado.
A seguir, apresentamos algumas das alternativas existentes para aceder ao setor das terras raras.
Empresas de terras raras cotadas em bolsa
Existem várias empresas em todo o mundo que se dedicam à extração e ao processamento destes elementos. No entanto, apenas três grandes grupos se destacam pela liquidez e acessibilidade no mercado:
- China Northern Rare Earth Group (China)
- MP Materials (Estados Unidos)
- Lynas Corporation (Austrália)
Ainda assim, deixamos uma lista mais alargada com algumas das principais empresas e respetivos dados:
| Empresa | Desempenho YTD | ISIN |
| China Northern Rare Earth Group (600111.SH) | +150% | CNE000000T18 |
| MP Materials (MP) | +200% | US5533681012 |
| Lynas Corp (LYC.AX) | +400% | AU000000LYC6 |
| Arafura Rare Earths (ARU.AX) | +200% | AU000000ARU5 |
| Pensana plc (PRE.L) | +500% | GB00BKM0ZJ18 |
| Northern Minerals (NTU.AX) | +100% | AU000000NTU4 |
| Neo Performance Materials (NEO.T) | +165% | CA64046G1063 |
ETF de Terras Raras: VanEck Rare Earth and Strategic Metals UCITS ETF A
Se pretenderes uma exposição mais ampla e diversificada a um setor tão específico como o das terras raras, optar por um ETF pode ser uma alternativa mais prática do que selecionar ações individuais.
Uma das opções disponíveis é o VanEck Rare Earth and Strategic Metals UCITS ETF (VVMX), com o ISIN IE0002PG6CA6, atualmente o único fundo cotado UCITS que segue o índice MVIS Global Rare Earth/Strategic Metals Index. Este índice é composto pelas empresas maiores e mais líquidas do setor, desde que mais de 50% das suas receitas provenham das terras raras e metais estratégicos.
Características do ETF:
- Nome do fundo: VanEck Rare Earth and Strategic Metals UCITS ETF A
- Rentabilidade a 3 anos: -22%
- Distribuição de dividendos: Não (ETF de acumulação)
- TER (Total Expense Ratio): 0,59%
- Volatilidade (últimos 12 meses): +29%
Este ETF é composto por 21 empresas ligadas ao setor dos metais raros e estratégicos, sendo que as 10 maiores posições representam mais de 65% do total da carteira. Entre estas encontram-se várias das empresas anteriormente referidas, como China Northern Rare Earth, MP Materials, Lynas, Pilbara Minerals, entre outras.
Em termos de exposição geográfica, a China representa o maior peso no fundo (mais de 33%), seguida pelos Estados Unidos, Austrália e outros mercados emergentes.
Quanto ao desempenho histórico, o ETF registou um comportamento claramente descendente no longo prazo (-22% nos últimos 3 anos). No entanto, nos últimos meses, e em linha com a crescente atenção sobre o setor, o fundo registou uma valorização superior a 50% em apenas cinco meses, quebrando a tendência descendente anterior (linhas vermelhas) e com um aumento expressivo do volume de negociação (círculo laranja), sinalizando uma reversão técnica da estrutura de preço.

Rentabilidade do ETF VanEck Rare Earth and Strategic Metals UCITS ETF A | Fonte: TradingView
A informação apresentada tem caráter meramente informativo e não constitui uma recomendação de investimento. O desempenho passado não garante resultados futuros e todos os investimentos envolvem risco de perda de capital.
Como aceder a outros metais estratégicos?
Interessado em matérias-primas essenciais tanto para o crescimento económico como para a produção de energia? Deixo dois artigos que podem ser úteis sobre o lítio e o cobre, dois metais fundamentais em setores como a mobilidade, a tecnologia e a logística internacional:
Como aceder ao mercado do lítio – Ações e ETFs: O lítio é um componente essencial na produção de baterias recarregáveis, utilizadas em veículos elétricos, dispositivos móveis e soluções de armazenamento de energia limpa. Neste artigo, são apresentadas as principais empresas dedicadas à extração e processamento de lítio, bem como os ETFs que oferecem exposição ao setor.
Como aceder ao mercado do cobre – Ações e ETFs: Já o cobre destaca-se como um metal indispensável na construção, eletrónica e na transição energética, graças à sua elevada condutividade. Também aqui se abordam as principais empresas mineiras e os fundos cotados que acompanham este mercado com potencial de crescimento.
Em resumo, as terras raras são um dos elementos mais críticos para o nosso futuro tecnológico imediato. Será difícil imaginar avanços relevantes em inteligência artificial ou melhorias nos sistemas de defesa sem um acesso estável e diversificado a estes materiais — cuja produção, de forma algo paradoxal, está hoje concentrada nas mãos da China, o principal rival estratégico dos Estados Unidos.
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