Análise Fundamental: O que é, como funciona e exemplos práticos
A análise fundamental de empresas é uma abordagem meticulosa para avaliar o verdadeiro valor intrínseco de uma empresa, para além das flutuações do mercado e dos preços atuais das suas ações. Este método baseia-se no estudo detalhado dos indicadores financeiros, da trajetória histórica e das perspetivas futuras da empresa. Ao desvendar estes elementos, o que se procura é compreender a saúde económico-financeira da empresa e o seu potencial de crescimento, proporcionando assim uma base sólida para a tomada de decisões de investimento.
O que é a análise fundamental nas investimentos?
A análise fundamental de empresas é uma técnica de avaliação financeira que tenta determinar o valor real ou intrínseco de uma empresa, independentemente das oscilações do mercado. Esta análise foca-se numa revisão exaustiva da informação financeira disponível, incluindo balanços, demonstrações de resultados, fluxos de caixa, e outros indicadores económicos chave.
Da mesma forma, a análise fundamental inclui a avaliação de fatores externos tais como o contexto económico, o setor industrial no qual a empresa opera e a sua posição competitiva dentro deste setor. Estes elementos são cruciais para entender tanto o desempenho histórico como o atual de uma empresa, e para poder projetar com maior exatidão o seu desempenho futuro. Isto traduz-se em determinar quanto benefício a empresa poderá obter ao longo do tempo e avaliar o seu equivalente atual. Mas surge a pergunta: como podemos calcular os futuros fluxos de caixa de uma empresa? Como determinar se uma empresa poderá perseverar, por exemplo, nos próximos dez anos? Como medir os riscos associados à empresa e saber se está em condições de gerar benefícios futuros? É aqui que a análise fundamental se torna indispensável.
Em essência, estimar o valor intrínseco de uma empresa implica antecipar os fluxos de caixa que gerará no futuro e calcular o seu valor presente.
O objetivo da análise fundamental é obter uma imagem completa da saúde financeira da empresa, sua estabilidade e seu potencial de crescimento a longo prazo, para assim fazer previsões mais acertadas sobre seu desempenho futuro. Esta metodologia permite aos investidores tomar decisões mais informadas, procurando e aproveitando oportunidades de investimento onde o preço de mercado de uma ação não reflete seu valor real baseado em fundamentos financeiros sólidos.
De onde parte a análise fundamental de ações?
A análise fundamental de empresas começa com a integração da análise quantitativa e da análise qualitativa, cada uma trazendo uma dimensão crucial para avaliar a saúde e o potencial de uma companhia. Mas, o que é isso? Vamos descobrir a seguir.
Análise quantitativa vs análise qualitativa
A análise quantitativa foca-se na interpretação de dados financeiros numéricos, principalmente através do exame detalhado dos três principais demonstrativos financeiros:
- O balanço, que oferece uma visão instantânea da situação financeira da empresa num determinado momento.
- A demonstração de resultados, que nos fornece indicadores que revelam a capacidade de geração de receitas, a eficiência operacional, a carga fiscal e a rentabilidade geral da empresa. Reflete a capacidade da empresa de gerar lucros.
- As demonstrações de fluxos de caixa revelam como o dinheiro entra e sai da empresa, refletindo a sua capacidade de gerar valor. Por sinal, graças às Demonstrações de Fluxos de Caixa e à Demonstração de Resultados, poderá calcular o Free Cash Flow (FCF) das empresas que vai analisar, métrica-chave para encontrar o seu valor intrínseco.
A análise qualitativa centra-se em fatores não numéricos, como a qualidade da gestão empresarial, a posição competitiva no mercado, a diretiva, as patentes e a propriedade intelectual, entre outros. Estes aspetos, embora menos tangíveis, são fundamentais para compreender as vantagens competitivas e o potencial de crescimento a longo prazo de uma empresa.
Principais rácios e indicadores que nos proporcionam a análise quantitativa
Para que tenham uma ideia da grande importância que têm estes dois âmbitos de análise fundamental, estes são apenas alguns dos principais dados e indicadores que nos proporciona a análise quantitativa e qualitativa de uma empresa:
Rácios de endividamento
Os rácios de endividamento determinam que parte dos ativos de uma empresa são financiados através da dívida, ou seja, medem o montante da dívida de uma empresa e a capacidade da organização para fazer face a ela.
Por outras palavras, os indicadores de endividamento calculam a proporção ou o grau de participação do capital de fornecedores e credores nos ativos da empresa, e a disposição da empresa para pagar os seus passivos através dos seus ativos. Portanto:
- Um rácio de endividamento superior a 1.0 ou 100% indica que a empresa tem mais dívida do que ativos.
- Enquanto que um rácio de dívida inferior a 1.0 ou 100% indica que a entidade tem mais ativos do que dívida.
A importância dos rácios de endividamento reside no facto de serem indicadores confiáveis calculados com base em dados quantitativos que revelam a saúde financeira da empresa, bem como a estabilidade e sustentabilidade do negócio a médio e longo prazo.
Além disso, os investidores utilizam estes índices para determinar o nível de risco e assegurar-se de que a empresa seja solvente, possa cumprir com as obrigações financeiras tanto atuais como futuras, e possa gerar um retorno do seu investimento.
Deixamos-lhe aqui os principais indicadores de endividamento ou solvência:
- Passivo total (recursos alheios) / Ativo total
- Passivo total (recursos alheios) / Património líquido
- Dívida bancária / Património líquido
- Dívida bancária / (Património líquido + Dívida bancária)
Rácios de rentabilidade
Os rácios de rentabilidade são cálculos matemáticos que nos ajudam a saber se uma empresa está a ganhar o suficiente para poder fazer face às suas despesas e ainda gerar benefícios para os seus proprietários.
Num negócio há despesas muito diferentes a que atender: despesas de pessoal, pagamento de impostos, amortizações, juros dos bancos, etc. Pelo que pode acontecer que uma empresa seja rentável numa determinada área mas tenha perdas noutra.
Precisamente por isso existem vários rácios de rentabilidade. E precisamente estes, permitem comparar os resultados da empresa em diferentes rubricas de ganhos ou de perdas:
- Rentabilidade sobre o capital (ROE – Return on Equity): Mede a capacidade da empresa para gerar benefícios a partir dos recursos próprios aportados pelos acionistas. Calcula-se dividindo o lucro líquido pelo capital próprio.
- Rentabilidade sobre ativos (ROA – Return on Assets): Avalia a eficácia com que uma empresa utiliza os seus ativos para gerar benefícios. Obtém-se dividindo o lucro líquido pelo total de ativos.
- Rentabilidade sobre o investimento (ROI – Return on Investment): Este rácio indica a eficiência de um investimento, calculando a relação entre o lucro líquido e o custo do investimento.
- Margem de lucro líquido: Mostra a percentagem de cada euro de venda que se converte em lucro líquido, após deduzir todas as despesas, impostos e juros. Calcula-se como o lucro líquido dividido pelas vendas totais.
- Rentabilidade sobre o capital empregado (ROCE – Return on Capital Employed): Mede a rentabilidade de todos os capitais empregados na empresa, incluindo dívidas e capital próprio. Calcula-se dividindo o resultado operativo (EBIT) pelo capital empregado (soma de dívida e capital).
Rácios de valorização
O rácio de valorização é uma medida de avaliação da qualidade da gestão ou performance de uma carteira de valores e define-se como o coeficiente alfa por unidade de risco próprio ou específico:
- P/E (Price-Earnings Ratio)
- P/B (Price to Book Value)
- P/V (Price to Sales)
- P/CF (Price to Cash Flow)
- Fator rentabilidade-dividendo (dividend yield)
- Crescimento futuro de lucros a longo prazo
- Crescimento histórico dos lucros
- Crescimento histórico das vendas
- Crescimento dos fluxos de caixa
- Crescimento do valor contabilístico
Principais rácios e indicadores da análise qualitativa
A seguir, deixamos-lhe os dados de alguns indicadores que servem para avaliar a qualidade de uma empresa:
1. Gestão e Direção: Qualidade e experiência da equipa diretiva, que são quem tomará todas as decisões empresariais, daí a extrema importância de analisá-la corretamente.
2. Posição Competitiva: Força da empresa dentro da sua indústria e a sua quota de mercado.
3. Inovação e Desenvolvimento de Produtos: Capacidade da empresa para inovar e adaptar-se às mudanças do mercado.
4. Relações com Clientes: Lealdade e satisfação do cliente, e como impacta na sustentabilidade do negócio.
5. Regulamentações e Fatores Legais: Como afetam as leis e regulamentações à operatividade e rentabilidade da empresa.
6. Riscos Operacionais: Exposição a riscos que podem afetar
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Métodos de análise fundamental
Continuamos com o nosso macro enfoque de organizar tudo o que diz respeito à análise fundamental. Já sabemos de onde extrair a informação, e como agrupá-la. Mas, Que tipo de análise se pode efetuar com tantos números e rácios? Explico-te a seguir:
Bottom-up
A análise bottom-up em bolsa é uma abordagem utilizada para avaliar e selecionar ações individuais baseando-se na análise detalhada das características e fundamentos de cada empresa. Em vez de se concentrar nos fatores macroeconómicos ou no estado geral do mercado, a análise bottom-up foca-se no estudo das empresas de forma individual.
Ou seja, procura examinar elementos como os estados financeiros da empresa, a sua estrutura de custos, o seu modelo de negócio, a qualidade da sua gestão, os seus produtos ou serviços, a sua posição competitiva, a sua estratégia de crescimento e outros fatores específicos da empresa. O objetivo é identificar ações que se considerem subvalorizadas ou que tenham um potencial de crescimento significativo em função da sua análise fundamental.
Esta abordagem implica uma análise exaustiva dos relatórios financeiros, das notícias relevantes, das perspetivas da empresa e de qualquer outro dado relevante que possa afetar o seu desempenho. Também podem ser considerados aspetos qualitativos, como a reputação da empresa, a sua inovação ou a procura pelos seus produtos.
Top-down
A análise top-down na bolsa é uma abordagem utilizada para tomar decisões de investimento com base na análise dos fatores macroeconómicos e do estado geral do mercado, para depois selecionar as ações ou setores que se espera que se beneficiem dessas condições.
Na análise top-down, começa-se por analisar os aspetos macroeconómicos, como o crescimento económico, a inflação, as taxas de juro, as políticas governamentais e outros indicadores económicos relevantes. A partir daí, avalia-se o impacto que estes fatores podem ter em diferentes setores da economia.
Uma vez identificados os setores que se consideram promissores, realiza-se uma análise mais detalhada das empresas dentro desses setores.
A análise ttop-down permite aos investidores tomar decisões de investimento baseadas nas tendências e perspetivas macroeconómicas. Procura-se identificar os setores ou áreas da economia que se espera que tenham um desempenho sólido em função dos fatores macroeconómicos, e depois selecionar as ações de empresas que se considerem mais promissoras dentro desses setores.
O que deve incluir uma análise fundamental?
Uma análise fundamental completa deve abranger vários níveis de análise para proporcionar uma compreensão profunda e holística da empresa em questão, bem como do contexto em que opera. Isto inclui:
Análise da situação da empresa
É crucial porque proporciona uma visão detalhada da saúde financeira e operacional da empresa. Permite aos investidores e analistas avaliar se a empresa está bem gerida, se é rentável, se possui uma estrutura de capital sustentável e se tem vantagens competitivas duradouras. Esta análise ajuda a identificar empresas com sólidos fundamentos que possam oferecer bons retornos a longo prazo.
Este nível centra-se em avaliar a saúde financeira, a estratégia de negócio, a posição competitiva, a gestão e o potencial de crescimento da empresa. Deve-se analisar a rentabilidade, a liquidez, o endividamento e a eficiência operacional através dos estados financeiros. Além disso, é crucial entender a qualidade e visão da equipa de gestão, as vantagens competitivas, os riscos operacionais e as oportunidades de expansão.
Análise da situação do setor
Aqui, o objetivo é avaliar o ambiente competitivo em que a empresa se move, incluindo a dinâmica de concorrência, o tamanho do mercado, as barreiras de entrada e saída, e as tendências de crescimento setorial.
É importante para compreender o contexto competitivo e as dinâmicas de mercado em que a empresa opera. Um setor em crescimento pode oferecer numerosas oportunidades para que as empresas expandam os seus rendimentos e melhorem a sua rentabilidade. Por outro lado, um setor com alta concorrência ou barreiras regulatórias pode apresentar desafios significativos. Esta análise ajuda a identificar tanto os riscos como as oportunidades derivadas do ambiente setorial.
Análise da economia nacional
A situação económica de um país afeta diretamente todas as empresas que operam dentro dele. Um ambiente económico robusto pode aumentar o poder de compra dos consumidores e estimular a procura, enquanto uma economia fraca pode reprimir o gasto e limitar o crescimento empresarial.
Esta análise é vital para prever as condições económicas que podem influenciar no desempenho da empresa.
Esta análise contempla o impacto da situação económica do país na empresa. Fatores como o crescimento do PIB, a taxa de inflação, as taxas de juro, o desemprego, e as políticas fiscais e monetárias podem afetar diretamente o desempenho empresarial.
Análise do ambiente macroeconómico
Estende-se para além da economia nacional para incluir fatores globais que podem ter um impacto na empresa. Isto inclui tendências económicas internacionais, taxas de câmbio, conflitos geopolíticos, acordos comerciais e a situação económica de mercados-chave.
Dado que as empresas operam numa economia globalizada, os fatores macroeconómicos internacionais podem ter um impacto significativo, especialmente para as empresas com operações ou mercados fora do seu país de origem. As mudanças nas taxas de câmbio, os conflitos geopolíticos ou as crises económicas em mercados-chave podem afetar a procura de produtos e serviços, os custos de importação/exportação e a rentabilidade geral. Esta análise é indispensável para avaliar a exposição da empresa a riscos e oportunidades globais.
Assim, cada um destes pontos oferece uma peça do quebra-cabeças na avaliação do valor intrínseco e do potencial de crescimento de uma empresa. Ao integrar estes níveis de análise, os investidores podem formar uma visão mais completa e matizada, permitindo-lhes tomar decisões de investimento mais informadas e fundamentadas.
Como fazer uma boa análise fundamental de uma empresa?
Uma boa análise fundamental pode partir de uma análise quantitativa para uma análise qualitativa ou vice-versa, mas, sem dúvida, uma boa análise fundamental completa deve incluir ambas e deve partir de uma boa estrutura para não perder informação relevante nem se perder entre demasiada informação não relevante, já que um dos aspetos fundamentais da análise é a gestão do tempo.
Passos para estruturar a análise quantitativa
(no anteriormente recomendado artigo sobre análise quantitativa e qualitativa, proponho adicionar um guia passo a passo para fazer uma boa análise quantitativa).
- Recompilação de Demonstrações Financeiras: Obtenha as últimas demonstrações financeiras da empresa, incluindo o balanço, demonstração de resultados e os fluxos de caixa.
#Dica 1: De onde extrair a informação fundamental?
Pode obter estes dados já resumidos e bem estruturados em plataformas gratuitas como TIKR.com, Tweenvest.com ou Yahoo Finance, entre outras (embora recomende sempre confirmá-los com os relatórios financeiros originais que todas as empresas publicam de forma obrigatória).
- Calcula rácios financeiros chave:
- Margem de lucro bruto e líquido: Para avaliar a eficiência operacional e a rentabilidade.
- ROE e ROA: Para medir a rentabilidade sobre o capital próprio e os ativos.
- Rácio de endividamento: Para entender o nível de alavancagem e risco financeiro.
#Dica 2: Utilizar sempre o mesmo método
Muitos destes rácios financeiros já vêm calculados em plataformas como TIKR.com ou Tweenvest.com, embora cada plataforma os calcule de uma forma diferente. É importante que utilize sempre a mesma fórmula ou não poderá realizar comparações corretas entre empresas.
- Análise de Tendências: Examina as mudanças nestes rácios ao longo do tempo para identificar tendências de melhoria ou deterioração.
- Comparação com a Indústria: Compara os rácios com as médias da indústria para avaliar a posição competitiva da empresa.
Passos para estruturar a análise qualitativa
Para alcançar uma boa análise qualitativa, deves centrar os teus esforços em:
- Avaliação da Gestão: Investiga a experiência e o histórico da equipa de gestão.
#Dica 3: Analisar a qualidade das empresas
Os relatórios anuais das próprias empresas incluem normalmente um CV do conselho de administração e é possível ver onde estiveram antes, para poder analisar como eram as empresas que geriam antes da empresa atual. Se estiverem na empresa há muito tempo, o que é o ideal, pode utilizar a análise das divulgações de resultados para analisar a tomada de decisões da administração, a forma como lidam com os problemas, como lidam com as crises e decidir se cumprem os requisitos fundamentais de uma boa equipa de gestão, em que o alinhamento com os acionistas e a gestão do capital são os principais fundamentos.
- Análise da posição competitiva: Identifica a quota de mercado da empresa, os seus principais concorrentes e vantagens competitivas.
- Inovação e desenvolvimento de produtos: Avalia a capacidade da empresa para inovar e o seu enfoque na investigação e desenvolvimento.
- Análise das relações com clientes: Considera a satisfação do cliente, a lealdade e como estes fatores podem influenciar no desempenho futuro.
- Fatores externos: Considera o impacto de regulamentações, mudanças legais e riscos operacionais na capacidade da empresa para operar e expandir-se.
Ao combinar ambas as análises, obtém-se uma visão integral da empresa, permitindo aos investidores tomar decisões informadas baseadas tanto em dados financeiros sólidos como numa compreensão profunda dos fatores que podem influenciar no sucesso da empresa a longo prazo.
Tipos de empresas segundo a análise fundamental
Podemos classificar a tipologia de empresas, de acordo com dois tipos de rankings, por características financeiras (e expectativas de crescimento) ou pelo seu tamanho atual.
Tipos de empresas segundo características financeiras
A análise fundamental categoriza as empresas em diferentes tipos segundo as suas características financeiras, o seu potencial de crescimento e a sua posição no mercado. Permitam-me defini-los de forma simples para que o vejam de forma clara:
Empresas de tipo Value (valor)
As empresas de tipo Value, ou ações de valor, são aquelas que são negociadas a um preço inferior ao seu valor intrínseco estimado. Estas empresas costumam ser ignoradas pelo mercado ou subestimadas devido a circunstâncias ou problemas temporários, mas têm fundamentos sólidos e oferecem uma margem de segurança para os investidores.
Poder-se-ia dizer que todas as empresas ou todos os investimentos em bolsa, ou pelo menos a maioria deles, têm uma abordagem de tipo value, ou seja, entende-se que quando se compra uma empresa, está-se a fazê-lo a um preço abaixo do seu valor intrínseco esperando uma revalorização. Mas as empresas de tipo value, ao contrário de outro tipo, o enfoque principal está na busca de um re-rating de múltiplos, ou seja, que o mercado atribua o múltiplo correto aos ativos da empresa e aproveite essa revalorização, deixando de lado, embora não excluindo, outros fatores como o crescimento esperado e a qualidade.
Empresas tipo Growth (crescimento)
As empresas Growth, ou ações de crescimento, são aquelas que se espera cresçam a um ritmo superior à média do mercado. Este crescimento pode dever-se à inovação, a novos produtos, à expansão em novos mercados, ou à dominância no seu setor. Os investidores estão dispostos a pagar mais por estas ações antecipando um crescimento futuro.
Alguns exemplos de empresas que foram (e podem talvez continuar a ser) empresas Growth são:
- Amazon: Pela sua constante expansão em novos mercados e a sua inovação em tecnologia e logística.
- Tesla: Devido à sua rápida expansão no mercado de veículos elétricos e energias renováveis.
Empresas tipo Quality (qualidade)
As empresas Quality caracterizam-se por ter uma vantagem competitiva duradoura, um balanço sólido, rentabilidade constante e uma gestão excelente. Estas empresas costumam gerar fluxos de caixa estáveis e têm um historial comprovado de desempenho a longo prazo, mas ao contrário do Growth, são consideradas empresas maduras e com crescimentos moderados, onde sobretudo se procura explorar uma estratégia mais defensiva e baseada em dividendos recorrentes.
Alguns exemplos podem ser:
- Apple: Reconhecida pela sua forte marca, inovação constante e lealdade do cliente.
- Johnson & Johnson: Pelo seu diversificado portefólio de produtos de saúde e o seu constante desempenho financeiro.
Empresas deep value (Valor Profundo)
São uma subcategoria dos investimentos de valor que se concentram em empresas que estão extremamente subvalorizadas. Estas empresas podem estar a enfrentar problemas sérios ou estar em indústrias em declínio, mas considera-se que o preço das suas ações caiu mais do que o justificado, apresentando uma oportunidade de investimento com um alto potencial de retorno.
Alguns exemplos seriam:
- Ford Motor Company: Em momentos em que enfrentou desafios significativos na sua indústria, mas a sua cotação em bolsa era considerada muito abaixo do seu potencial a longo prazo e foi possível obter uma rentabilidade quando o mercado ajustou o seu preço.
- GameStop: Famosa por ser um investimento de Deep Value durante o fenómeno de trading de 2021, onde investidores de retalho impulsionaram o preço da ação argumentando que estava extremamente subvalorizada. Neste caso, ocorreu também um evento habitual em empresas deep value com uma forte pressão de curtos (investidores que investem contra a empresa) denominado “estrangulamento de curtos”, que daria para outro artigo completo.
Cada tipo de empresa oferece diferentes riscos e oportunidades, e a escolha entre elas depende da estratégia de investimento, do horizonte temporal e da tolerância ao risco do investidor.
Classificação de empresas segundo o tamanho
A classificação de empresas por tamanho de capitalização de mercado é uma forma comum de segmentar o universo de investimento, cada categoria tem características únicas que influenciam no seu perfil de risco e retorno.
Big caps (companhias de alta capitalização)
As Big Caps são empresas com uma capitalização de mercado geralmente superior a 10$ mil milhões. São líderes nas suas indústrias, com uma longa história de estabilidade financeira e frequentemente pagam dividendos de forma regular. Estas empresas, conhecidas também como Blue Chips (conceito que reúne as empresas com maior capitalização de mercado), têm uma reputação de qualidade, fiabilidade e capacidade para operar de forma rentável em boas e más condições económicas.
Exemplos de Big Caps seriam Apple, Microsoft, Amazon, e Coca-Cola.
Mid caps (capitalização média)
Neste caso, as mid caps são empresas com uma capitalização de mercado que geralmente oscila entre 2$ mil milhões e 10$ mil milhões. As Mid Caps são consideradas como empresas numa fase de crescimento, oferecendo um equilíbrio entre o potencial de crescimento das Small Caps e a estabilidade das Big Caps. Embora possam oferecer maiores retornos, também acarretam um risco maior.
Alguns exemplos seriam (atualmente) empresas como Teleperformance ou Grupo Catalana Occidente.
Small caps (pequena capitalização)
Falar de small caps é falar de empresas com uma capitalização de mercado inferior a 2$ mil milhões. São consideradas como oportunidades de crescimento potencialmente mais altas, mas com maior risco. As Small Caps podem ser mais voláteis e menos líquidas do que as empresas maiores, mas oferecem a possibilidade de altos retornos para os investidores dispostos a assumir um maior risco.
Alguns exemplos em Espanha seriam Aedas Homes ou Applus.
Micro caps (muito pequena capitalização)
São empresas com uma capitalização de mercado inferior a 500$ milhões. Estas empresas operam em nichos de mercado, podem estar nas primeiras etapas de desenvolvimento ou podem operar em indústrias muito especializadas. São as mais arriscadas dentro das categorias de capitalização de mercado, com alta volatilidade e liquidez limitada, mas também podem oferecer oportunidades significativas de apreciação a longo prazo para os investidores.
Alguns exemplos seriam: Newlat Food ou The Italian Sea Group.
Cada categoria de capitalização oferece uma combinação única de risco e retorno, e os investidores costumam diversificar as suas carteiras através de diferentes tamanhos de empresas para otimizar esta relação em função dos seus objetivos e tolerância ao risco.
Análise técnica e fundamental: Qual é melhor?
Na eterna dialética de análise técnica vs fundamental, vamos ver de forma mais ou menos sintetizada, como temos vindo a fazer ao longo de todo o artigo, em que se diferenciam cada uma das análises bolsistas:
Conceitos Chave
Conceitos chave Análise Técnica:
- Baseado no estudo dos preços de mercado e volumes de negociação passados, com o objetivo de prever futuros movimentos de preços.
- Sustenta que todos os fatores fundamentais, juntamente com as perceções do mercado e as reações dos investidores, já estão refletidos no preço das ações.
- Utiliza gráficos e ferramentas matemáticas para identificar padrões e tendências que possam sugerir futuros movimentos do mercado.
Conceitos chave análise fundamental:
- Foca-se em avaliar o valor intrínseco de uma empresa, analisando dados económicos, financeiros e outros fatores qualitativos e quantitativos.
- Considera que o mercado pode sobrevalorizar ou subvalorizar ações a curto prazo, mas que os preços se corrigirão a longo prazo para refletir o verdadeiro valor da empresa.
- Utiliza os estados financeiros da empresa, a posição competitiva, a indústria e a economia em geral para fazer as suas avaliações.
Objetivos chave
Análise técnica
- O objetivo principal é gerar benefícios a curto prazo através da compra e venda de ações baseadas em padrões de preços.
- Procura identificar o “momento” adequado para entrar ou sair de uma posição, baseando-se na suposição de que a história tende a repetir-se em termos de movimento de preços.
Análise fundamental
- O seu objetivo é investir a longo prazo em empresas que se acreditam subvalorizadas pelo mercado, com a expectativa de que o seu preço se ajustará em alta conforme o seu valor intrínseco seja reconhecido pelo mercado.
- Procura identificar empresas com sólidos fundamentos e perspetivas de crescimento sustentável, oferecendo uma oportunidade de investimento com menos risco relativo e potencial de apreciação a longo prazo.
Horizontes temporais
Horizonte temporal da análise técnica:
- Curto Prazo: A análise técnica é especialmente popular entre os traders que operam no curto prazo, incluindo os day traders e os swing traders. Estes investidores procuram aproveitar os movimentos de preços a curto prazo, que podem durar desde minutos até várias semanas.
- Médio Prazo: Também pode ser utilizada para estratégias de investimento a médio prazo, identificando tendências e padrões que possam durar de algumas semanas a vários meses.
Horizonte temporal da análise fundamental:
- Longo Prazo: A análise fundamental é preferida por investidores a longo prazo, como os investidores em valor ou growth, que procuram manter os seus investimentos durante anos ou até mesmo décadas. A premissa é que o valor intrínseco de uma empresa se refletirá eventualmente no seu preço de mercado, independentemente das flutuações a curto prazo.
Estilos de investimento
Estilo de investimento baseado em análise técnica
- Especulativo: Devido ao seu enfoque no preço e no volume, a análise técnica é mais especulativa e adapta-se a estratégias de investimento mais agressivas. Os investidores técnicos podem entrar e sair rapidamente de posições baseando-se em sinais técnicos.
Estilo de investimento baseado em análise fundamental:
- Baseado em Valor: A análise fundamental alinha-se com uma abordagem de investimento mais conservadora e baseada no valor, onde os investidores procuram empresas subvalorizadas com fundamentos sólidos e potencial de crescimento a longo prazo.
Principais críticas à análise técnica e à análise fundamental
Principais críticas à análise técnica:
- Autocumprimento: Uma crítica comum é que alguns padrões podem funcionar porque suficientes traders acreditam neles e agem em conformidade, mais do que por qualquer base fundamental.
- Volatilidade: Dado que se baseia em movimentos de preços, pode ser suscetível à volatilidade do mercado, o que pode levar a sinais falsos e perdas inesperadas.
Principais críticas à Análise Fundamental:
- Desfasamento Temporal: Uma crítica é que pode levar muito tempo para que o preço de mercado de uma ação reflita o seu valor intrínseco, durante o qual o investidor deve manter uma posição sem garantias de rendimento.
- Análise Subjetiva: Embora se baseie em dados financeiros, a interpretação desses dados pode ser subjetiva. Além disso, fatores como o sentimento do mercado e eventos imprevistos podem afetar o rendimento do investimento, independentemente dos fundamentos da empresa.
👉 E já que estamos aqui, se também quiser conhecer quais são os fundamentos da análise técnica, deixamos-lhe o seguinte artigo: Análise Técnica | Guia Completo
Análise fundamental ou técnica: O que é melhor?
Ambas as abordagens têm os seus méritos e limitações, e muitos investidores experientes utilizam uma combinação de ambas para tomar decisões de investimento mais informadas, ajustando as suas estratégias conforme os seus objetivos de investimento, horizonte temporal e tolerância ao risco.
Enquanto a análise técnica se centra no “quê” e “quando” comprar ou vender com base nos preços e volumes, a análise fundamental pergunta “porquê” uma ação deve ser comprada ou vendida, com base na saúde e potencial de crescimento da empresa.
A análise técnica é preferida por traders a curto prazo e especuladores, devido ao seu foco em movimentos de preços e tendências. Por outro lado, a análise fundamental é a estratégia de escolha para investidores a longo prazo que procuram construir riqueza através da aquisição de empresas sólidas a preços razoáveis. Ambas as abordagens podem ser complementares, com alguns investidores utilizando a análise técnica para decidir o momento de entrada ou saída de investimentos selecionados através da análise fundamental.
Investidores de filosofia value de análise fundamental
Vejamos os investidores mais importantes da história e do momento, que popularizaram a ideia da análise fundamental como uma das mais sensatas e rentáveis que existem.
Benjamin Graham
Benjamin Graham nasceu em Londres de onde se mudou com a sua família para Nova Iorque pouco depois do seu nascimento, após viver alguns anos na pobreza e sofrer a morte do seu pai, formou-se em Columbia sendo um dos alunos mais destacados da sua turma. Após a sua graduação começou a trabalhar em Wall Street e mais tarde fundou a empresa Graham-Newman Partnership.
Ao longo da sua carreira como investidor desenvolveu a filosofia de investimento value investing junto com David Dodd, baseada no investimento em empresas com um preço de cotação baixo em relação à sua valorização por fundamentais. Entre alguns rácios de valorização desta filosofia encontra-se a rentabilidade do dividendo, a relação preço em relação aos lucros, ou o preço em relação ao valor contabilístico.
Warren Buffett
Warren Buffett, nascido em Omaha em 1930, é um investidor e empresário norte-americano conhecido como o oráculo de Omaha. Presidente da firma de investimentos Berkshire Hathaway, é um dos homens mais ricos e influentes do mundo, sem esquecer o seu importante trabalho filantrópico.
Desde uma idade precoce mostrou um grande interesse pela economia e pelos investimentos. Tais foram os sucessos alcançados por Warren Buffett no mundo dos investimentos que é considerado o melhor investidor de todos os tempos.
Peter Lynch
Peter Lynch é um dos grandes investidores da história. Tal como outros grandes referentes do mundo do trading, tornou-se uma lenda entre os aficionados e profissionais do investimento em mercado de capitais.
Lynch geriu entre 1977 e 1990 o hedge fund mais importante dos Estados Unidos: o Magellan da Fidelity Investments. A partir daí, forjou uma carreira notável, na qual conseguiu benefícios para a Fidelity de entre 29% e 30% de média anual. Uma verdadeira loucura, que representa a eficiência deste homem para realizar investimentos.
David Dodd
David LeFevre Dodd (23 de agosto de 1895 – 18 de setembro de 1988) foi um educador, analista financeiro, autor, economista e investidor norte-americano. Nos seus anos de estudante, Dodd foi protegido e colega de Benjamin Graham na Columbia Business School.
O Crash de Wall Street de 1929 (terça-feira negra) quase aniquilou Graham, que tinha começado a ensinar no ano anterior na sua alma mater, Columbia. O crash inspirou Graham a procurar uma forma mais conservadora e segura de investir. Graham aceitou ensinar com a condição de que alguém tomasse notas. Dodd, então um jovem instrutor em Columbia, ofereceu-se como voluntário. Essas transcrições serviram como base para um livro de 1934 Análise de Investimentos (Security Analysis), que galvanizou o conceito de investimento de valor. É o texto de investimento de maior duração jamais publicado.
E até aqui o nosso resumo genérico de o que é e o que abrange todo o conceito da análise fundamental. Claro, é muito mais profundo, mas precisamente por isso, anexei diferentes artigos muito mais explicativos, onde poderás ir avançando pouco a pouco e de forma estruturada.
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Interactive Brokers: Investir em produtos financeiros implica correr riscos.
Os seus investimentos podem aumentar ou diminuir de valor, e as perdas podem exceder o valor do seu investimento inicial.
RANKIA PORTUGAL: Este artigo é meramente informativo e educacional. As informações fornecidas aqui não podem ser consideradas como aconselhamento financeiro ou recomendação de compra / venda.
Trading 212: Ao investir, o seu capital está em risco e pode recuperar menos do que o montante investido. Resultados passados não garantem resultados futuros.
Se ativar os juros, o seu dinheiro será mantido em fundos de mercado monetário elegíveis e bancos. Caso contrário, será mantido apenas em bancos. Os juros aplicam-se ao dinheiro na conta de investimento. Aplicam-se termos e condições.
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